Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

4 de setembro de 2014

Oração da Serenidade, paz interior e sabedoria

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Para quem tem tendência para querer controlar tudo de modo a que nada de mal aconteça, confesso que me falta frequentemente habilidade para separar (e aceitar) as coisas que não posso mudar das que posso – a tal sabedoria a que Reinhold Niebuhr (1892–1971) se referia no poema “Serenity Prayer.” Aos poucos isto vai-se tornando mais fácil, mas há determinadas coisas que ainda me causam uma certa angústia...precisamente por saber que não posso fazer nada para as modificar.


O que se está actualmente a passar na Ucrânia, no Médio Oriente e em certos países de África são acontecimentos que me incomodam de tal maneira que faço por não falar nem escrever sobre eles. Saber que tenho as mãos atadas para ajudar aquela gente e fazer ver aos culpados daquilo tudo que estão redondamente enganados, é algo que me põe os nervos de tal maneira em franja ao ponto de me chegar a afectar a saúde. O mesmo acontece em querer mudar certas pessoas que tenho na minha vida e das quais não me posso afastar, ou os imbecis arrogantes com que lido diariamente. Já percebi que as pessoas só mudam se a isso estiverem dispostas e que ninguém tem o direito de querer mudar ninguém.  Também já me convenci que não tenho outro remédio se não aceitar certas limitações, como, por exemplo, aceitar que nunca fui (nem nunca serei) nenhuma Halle Berry ou Bar Refaeli e esquecer-me da agilidade dos meus (longínquos) 20 e 30 anos, nem que nunca terei a inteligência de um Einstein ou da Vinci. Todos temos obrigação de fazer o melhor que podemos com o que temos, agora fantasiar ou desejar o impossível é uma perda de tempo e de energias, já para não dizer um sofrimento desnecessário.


Mas onde ainda tenho uma certa dificuldade é em aceitar tudo isto de forma calma e serena. Já me apercebi que, ainda mais importante do que mudar o que não gostamos ou resignarmo-nos (como eu detesto a palavra “resignar!”)a certas realidades crueis e intoleráveis, é termos serenidade e paz interior para lidarmos com toda a turbulência inerente à vida de uma forma construtiva e de cabeça fria. Porque catástrofes e problemas nunca deixarão de existir, gostava de me poder controlar melhor e de não deixar que as injustiças me façam perder tão facilmente as estribeiras. Preferia viver a vida com as minhas emoções mais “equilibradas”; espero nunca indiferente, mas sim de uma maneira mais calma e despreocupada. É que no fundo, no fundo, eu sei que tudo se resolve, que há cura para tudo menos para a morte e que estar bem perante uma realidade inaceitável qualquer, não é bem a mesma coisa do que resignarmo-nos a ela.


Gostava, portanto, de acabar os meus dias como a minha avó. Tenho uma fotografia dela tirada horas antes de falecer vítima de um AVC, a fazer crochet debaixo de um araçaleiro com um semblante e um sorriso a irradiarem satisfação e paz interior. Apesar de todas as dificuldades porque passou, nunca a vi azeda com nada nem ressentida com ninguém; antes pelo contrário: era uma presença calma, serena, alegre e cheia de sabedoria. 

Vejo muita serenidade e paz interior nas expressões de certos bébés e crianças. Faço votos para que nunca a percam ... e eu espero, um dia, reencontrá-la.   
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