Para quem tem tendência para querer controlar tudo de modo a
que nada de mal aconteça, confesso que me falta frequentemente habilidade para separar (e aceitar) as
coisas que não posso mudar das que posso – a tal sabedoria a que Reinhold Niebuhr
(1892–1971) se referia no poema “Serenity Prayer.” Aos poucos isto vai-se tornando
mais fácil, mas há determinadas coisas que ainda me causam uma certa
angústia...precisamente por saber que não posso fazer nada para as modificar.
O
que se está actualmente a passar na Ucrânia, no Médio Oriente e em certos
países de África são acontecimentos que me incomodam de tal maneira que faço
por não falar nem escrever sobre eles. Saber que tenho as mãos atadas para
ajudar aquela gente e fazer ver aos culpados daquilo tudo que estão
redondamente enganados, é algo que me põe os nervos de tal maneira em franja ao
ponto de me chegar a afectar a saúde. O mesmo acontece em querer mudar certas
pessoas que tenho na minha vida e das quais não me posso afastar, ou os imbecis
arrogantes com que lido diariamente. Já percebi que as pessoas só mudam se a
isso estiverem dispostas e que ninguém tem o direito de querer mudar
ninguém. Também já me convenci que não
tenho outro remédio se não aceitar certas limitações, como, por exemplo,
aceitar que nunca fui (nem nunca serei) nenhuma Halle Berry ou Bar
Refaeli e esquecer-me da agilidade dos meus (longínquos) 20 e 30 anos, nem que
nunca terei a inteligência de um Einstein ou da Vinci. Todos temos obrigação de
fazer o melhor que podemos com o que temos, agora fantasiar ou desejar o
impossível é uma perda de tempo e de energias, já para não dizer um sofrimento
desnecessário.
Mas
onde ainda tenho uma certa dificuldade é em aceitar tudo isto de forma calma e
serena. Já me apercebi que, ainda mais importante do que mudar o que não
gostamos ou resignarmo-nos (como eu detesto a palavra “resignar!”)a certas
realidades crueis e intoleráveis, é termos serenidade e paz interior para
lidarmos com toda a turbulência inerente à vida de uma forma construtiva e de
cabeça fria. Porque catástrofes e problemas nunca deixarão de existir, gostava
de me poder controlar melhor e de não deixar que as injustiças me façam perder
tão facilmente as estribeiras. Preferia viver a vida com as minhas emoções mais “equilibradas”; espero nunca indiferente, mas sim de uma
maneira mais calma e despreocupada. É que no fundo, no fundo, eu sei que tudo
se resolve, que há cura para tudo menos para a morte e que estar bem perante
uma realidade inaceitável qualquer, não é bem a mesma coisa do que
resignarmo-nos a ela.
Gostava,
portanto, de acabar os meus dias como a minha avó. Tenho uma fotografia dela
tirada horas antes de falecer vítima de um AVC, a fazer crochet debaixo de um araçaleiro
com um semblante e um sorriso a irradiarem satisfação e paz interior. Apesar de
todas as dificuldades porque passou, nunca a vi azeda com nada nem ressentida
com ninguém; antes pelo contrário: era uma presença calma, serena, alegre e
cheia de sabedoria.
Vejo
muita serenidade e paz interior nas expressões de certos bébés e crianças. Faço
votos para que nunca a percam ... e eu espero, um dia, reencontrá-la.
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