Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

28 de julho de 2015

Sinergia




Acho tanta piada ao simbolismo desta imagem. Se fosse professora da escola primária mostrava isto aos meus alunos, pedia-lhes para contarem uma história baseada no que estavam a observar e deliciava-me a apreciar a imaginação dos pequenitos.

Faz-me lembrar esta canção do filme A Hole in the Head: 


Next time you’re found with your chin on the ground
There’s a lot to be learned, so look around
(…)
When troubles call and your back’s to the wall
There’s a lot to be learned, that wall could fall
(…)
All problems are just a toy balloon
They’ll be bursted soon
They’re just bound to go POP

Ele é a formiga que consegue deslocar a árvore de borracha; ele é o tonto do carneiro que não desiste de dar cabeçadas na barragem na esperança de perfurar a parede. Por outras palavras, a fórmula é simples:  grandes expectativas + pensamentos positivos + perseverança = oops, lá se vão todos os obstáculos. Porém, por vezes é preciso cooperação, um certo esforço colectivo – tal como demonstram as tartaruguitas da foto. Infelizmente há, presentemente, muita falta de boa vontade e muito derrotismo e assim não se chega lá – onde quer que isso seja.

Com boa vontade e muito trabalho tudo é possível.
Where there’s a will there’s a way.

26 de julho de 2015

O dever dos privilegiados, a ganância, a arrogância, a globalização... e como as elites controlam as mentes do mais comum dos mortais



Noam Chomsky  é um homem muito difamado neste país ... mas não por mim; eis algumas das razões porquê (numa  entrevista que concedeu à cadeia de televisão Al Jazeera, o académico aborda os seguintes temas e defende as seguintes teses):

I – Com o privilégio vem responsabilidade
Chomsky defende que estar envolvido na política é um direito cívico e dever de todos nós; porém, esta responsabilidade deve ser medida pela oportunidade, ou seja, quem trabalha 60 horas por semana para poder pôr comida na mesa tem forçosamente menos responsabilidade do que quem tem um certo grau de privilégio: “the more privilege you have the more opportunity you have; the more opportunity you have, the more responsibility you have..it’s elementary.”

A razão porque isto não se vê nos Estados Unidos é simples (um país onde a classe média de outrora é cada vez menor  e onde há cada vez mais pobres... enquanto que a riqueza está cada vez mais concentrada num pequeno grupo de indivíduos): “If you dedicate your life to enriching yourself and those are your values and you don't care what happens to anyone else (...) it's self-selective; it's also institutional. In its most extreme and pathological form it's the Ayn Rand ideology 'I just don't care about anyone else, I'm only interested in benefiting myself and that is good and noble'".  Esta maneira de encarar a vida, a meu ver, explica porque tantas pessoas votam contra os seus próprios interesses: enquanto que o individualismo é visto por muitos como sendo “bom e nobre”, o  colectivismo é sinónimo de socialismo, i.e., algo de perverso e a evitar como o diabo.

II – Os riscos da obsessão com os lucros a curto prazo
Esta preocupação contínua foi muito além da derrocada do sistema financeiro: “that’s bad enough but there’s another externality that’s much more severe...the destruction of the species and that’s not a joke (...) it’s imminent that global warming will cause major catastrophe, you can argue about the details but not much doubt that it’s coming and if you don’t pay attention to it because it’s an externality, ‘I’m interested in gain not what happens to my grandchildren,’  then you’re going to accelerate the disaster (…) that’s the most severe of all of them (….) inherent to the market system(…)”  Para evitar esta e outras tragédias, o professor defende então implementar (ou reforçar) um sistema de controlos e equilíbrios e explica que: “in the 1950s and 1960s, which was the biggest growth period in American history, financial institutions were regulated (…) and there were no financial crisis.”  Infelizmente, há 3 décadas a esta parte que os eleitores são sistematica e lentamente  indoutrinados a crer que “government is bad...free market is good...capitalism is the only viable system and the good-old American way.”

III – A globalização
Não é fruto de nenhuma desestabilização do sistema natural, mas o resultado de uma série de decisões tomadas “(...) to reconstruct the economy so as to undermine domestic production and send it out to Bangladesh and to shift investment to finance rather than production.”  Chama-se a isto políticas neoliberais – com consequências desastrosas para tantos (não vou agora entrar em discussões sobre os benefícios, nomeadamente o desenvolvimento económico dos chamados mercados/países emergentes). Nos EUA estas consequências não são tão dramáticas como os programas de austeridade em certos países europeus mas, mesmo assim, têm resultado em: “dramatic concentration of wealth, the stagnation and the decline for much of the population, the increasing poverty (...) and for repressed parts of the population it really is a catastrophe.”

IV – Motivos Ocultos
As elites usam o poder para controlar milhões de pessoas:  Chomsky acha impressionante existirem hoje indústrias dedicadas exclusivamente a controlar as atitudes e opiniões do mercado promovendo, assim, uma certa imagem para os seus clientes perante os olhos de consumidores e eleitores; não menos impressionante foi o facto de a indústria de Relações Públicas nascer na Inglaterra e nos Estados Unidos da America, em princípio os dois países mais livres do Mundo: (...) the business world understood that it was getting harder to control people by pressure (…) the people were getting too many rights ‘so we got to move on and control attitudes and opinions’ (…) markets are based on informed consumers making rational choices (…) turn on the television and then look at an ad, are they trying to make informed consumers who will make rational choices? (…) the whole thing is trying to create uninformed consumers making irrational choices (…) this huge industry is largely devoted to undermining markets (…) suppose you turn to elections (…) the PR  industry basically runs the elections, are they trying to create informed voters who make a rational choice? No, quite the opposite, they want to undermine democracy by creating uninformed voters who will make irrational choices (…) this huge industry, paid hundreds of millions of dollars a year, dedicated to undermining markets and democracy and nobody says anything (…) it’s transparent, it’s not profound, but try to find somebody who says it (…) we have to keep the masses uninformed, marginalized, so that we, ‘the responsible men’, can run things (…) for their own benefit we’ve got to control them, just as we don’t let a three year old run into the street, that’s the way we’ve got to treat the population – AMEN professor Chomsky!

Ao sequestrar certo vocabulário, estes “todos-poderosos” sucederam em alterar o significado de certas palavras de modo a melhor satisfazer as suas necessidades e interesses e assim avançar as suas agendas. E como linguista que é, Chomsky percebe de semântica  e consegue ver através do nevoeiro.

Noam Chomsky fala ainda na arrogância e descaramento do “banqueiro de fato e gravata” (referindo-se ao alto custo para o contribuinte dos processos de litígio iniciados pela seguradora multinacional American International  Group/aka AIG); explica  como a política externa americana vai contra princípios de direito anglo-americano que remontam ao séc XV; e, com apenas meia dúzia de exemplos, prova como a liberdade de expressão nos Estados Unidos não passa de uma mera ilusão.

Gostei muito desta entrevista. Partilho muitos destes pontos de vista, mas nunca poderia exprimi-los tão eloquentemente como este senhor. Talvez por isso me tenha alargado mais do que tencionava: são 25 mns que valem a pena
 

24 de julho de 2015

Não é OK que os seus funcionários não tenham dinheiro para comer



Num passado ainda não muito distante, defender os interesses dos trabalhadores era uma das principais funções dos departamentos de recursos humanos. Aos poucos (direi desde meados dos anos 80, princípio dos anos 90) isto tem vindo a mudar. Nestes últimos trinta anos, a principal função do gerente de RH deixou de ser a de garantir que os melhores talentos não só sejam contratados como, também (e talvez ainda mais importante) retidos, para passar a ser o de “porta voz” do conselho de administração, cujo principal foco é o de aumentar os lucros trimestrais e cheques de dividendos em detrimento de metas e crescimento a longo prazo. Hoje em dia os trabalhadores deixaram de ser uma das partes interessadas no negócio (juntamente com clientes, acionistas e a comunidade onde a empresa está inserida) para passarem a ser um “afterthought”, frequentemente vistos como um “mal necessário.” É raro o Departamento de Administração das grandes empresas de hoje que se preocupa com o bem-estar e segurança dos trabalhadores; os únicos que importam agora são os acionistas. 

A maioria das empresas deixou de oferecer pensões, os seguros de saúde são cada vez mais caros (e cada vez cobrem menos) e nunca se trabalhou tanto por menos. As pessoas resignam-se ao “it is what it is/deal with it/don’t like it leave” e enquanto virem as suas parcas poupanças renderem alguma coisa na carneirada da Bolsa não se revoltam e continuam na ilusão do “better days will come.”  

O resultado de tudo isto é a falta de lealdade, uma verdadeira porta giratória de trabalhadores que (por não se sentirem valorizados e por estarem desiludidos com promesas falsas) decidem partir em busca de pastos mais verdes. Entretanto agatanham-se uns aos outros, criam maus ambientes e enfrentam relações difíceis com os nervos em franja. O resultado é um número obsceno de pessoas a sofrer e a lidar com tudo isto da melhor maneira que sabem: medicando-se. Uma cambada de marionetas, sonâmbulos sobrevivendo à custa de cafeína e anti-depressivos. Tudo em nome do progresso. Tudo em nome do crescimento económico – de modo a podermos comprar mais merda que não precisamos. 
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