O que isto quer dizer é que os nossos olhos vêem o
mundo através de uma luz ofusca, pouco nítida. Reconhecer isto, conseguir ser
imune às influências dos outros e calar o burburinho de vozes na cabeça é um
sinal de maturidade e é aí que reside a verdadeira sabedoria.
Infelizmente, desde a mais tenra idade que somos constantemente bombardeados
com regras a que temos (forçosamente) de aderir, moldados para obedecer a certas normas sociais e, frequentemente, a encarar
e a descartar muitos
dos nossos sonhos como infantis,
imaturos, ou irresponsáveis. O resultado, para muitos, é um dia olharem
para um espelho e não reconhecerem o monstro que olha para eles e depois
chegarem ao fim azedos, ressentidos, arrependidos e a desejar que o fim se
aproxime depressa. Espero que isto nunca
aconteça comigo. Sinto que estou agora a começar a descer uma escada com
(ainda) muitos degraus e espero chegar ao rés-do-chão com um sorriso nos lábios
– se não de felicidade e alívio por ter tido uma viagem fácil, ao menos com um
sorriso de satisfação por todas as lições valiosas que esta jornada cheia de solavancos me proporcionou. Uma destas lições foi,
precisamente, reconhecer que cada questão e ponto de vista tem, pelo menos,
dois lados; que as aparências iludem; e que, numa discussão qualquer, é
importante colocarmo-nos no lugar
da outra pessoa e fazer por entender o que a leva a reagir de certa maneira.
Mas talvez a lição mais importante seja reconhecer que se deve pensar menos e
agir mais, nunca deixando que o medo nos impeça de concretizar os nossos
sonhos, seguindo sempre o nosso coração e o que nos faz sentir bem. As decisões
que afectam o nosso futuro devem ser tomadas por nós e não para agradar
ninguém. Todas estas lições têm a ver com a tal percepção e clareza a que
William Blake se refere. Infelizmente, ainda não consigo é ser muito
consistente e, por vezes, ainda me faltam as forças para lutar contra a
maré. É que passar a vida a lutar pode
tornar-se muito cansativo, o que por vezes nos leva a escolher o caminho mais
fácil em vez de o mais gratificante...e o resultado são (ainda) mais remorsos
no futuro.