Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

23 de julho de 2015

Razões para contratar trabalhadores mais velhos



É do conhecimento geral que quando trabalhadores com mais de 50 anos de repente se encontram no desemprego, a probabilidade de regressarem ao mercado de trabalho é praticamente nula. Apesar de beneficiarem, regra geral, de uma taxa de desemprego relativamente baixa, o certo é que, quando o desemprego lhes bate à porta, têm muito mais dificuldade em regressar ao mercado de trabalho do que um desempregado 20 ou 30 anos mais novo. Então, para pagar as contas, pedem a reforma antecipada, o que resulta num corte permanente nos benefícios pondo assim em risco a sua segurança financeira nos anos de aposentação.

É uma verdadeira litania de estereótipos que explica porque as pessoas mais velhas são, frequentemente, rejeitadas quando se candidatam a um emprego: seja por serem mais resistentes às novas tecnologias, mais propensos a faltas por motivos de doença, por terem dificuldade em trabalhar com supervisores mais jovens, mais relutantes em viajar, menos criativos, menos produtivos, ou mais vagarosos. Tudo isto, frequentemente, antes de terem oportunidade de demonstrarem o que valem numa entrevista. 

Tenho lido muito sobre este assunto e ao longo dos anos também tenho constatado que muitas destas teorias não têm fundamento absolutamente nenhum. Peter Cappelli (professor de gestão na Wharton School of business) concorda. Baseando-se nos campos da psicologia, economia e demografia Cappelli demonstra, no livro Managing the Older Worker, que estes argumentos não passam de tretas: 

1-) No que diz respeito ao desempenho, os funcionários mais velhos são muitíssimo melhores do que os colegas mais jovens.
2-) A justaposição entre o desempenho superior dos trabalhadores mais velhos e a discriminação contra eles no local de trabalho não faz sentido absolutamente nenhum.
3-) O trabalhador mais velho merece boas notas pela lealdade, confiabilidade e também por ter um circulo de contactos frequentemente maior do que um trabalhador ainda jovem.
4-) O trabalhador mais velho também recebe boas notas no que diz respeito à liderança, tarefas que requerem mais atenção ao pormenor (minuciosas/ detalhadas), assim como: maior capacidade de organização, prestar atenção e maior habilidade na escrita e na resolução de problemas - mesmo em áreas em princípio mais difíceis, como a ciência da computação.

E Cappelli vai mais longe: o trabalhador mais velho traz uma experiência e um fundo de conhecimentos próprio da maturidade, frequentemente ausente num trabalhador mais novo; salvo raras excepcoes, já aprenderam a lidar com as pessoas, com o conflito e a resolver problemas sem drama. Também mais depressa pedem ajuda quando necessário. Aliás, esta experiência de um trabalhador mais velho acaba por ser uma mais valia, na medida em que compensa por qualquer falha do foro físico ou mental quando comparado com um colega mais jovem.

Os trabalhadores mais jovens também desfrutam da reputação de serem mais hábeis a "multitasking" e a lidar melhor com as distrações tecnológicas do escritório moderno; porém, de acordo com o neurocientista Adam Gazzaley da University of California em São Francisco, esta obsessão com "multitasking" não passa de um equívoco. É que na realidade, o cérebro não pode desempenhar duas funções em simultâneo. O que o cérebro faz é mudar de uma tarefa para outra, e com cada mudança há um ligeiro atraso, tipo " custo escondido ".  Embora seja verdade que este declínio cognitivo aumenta com a idade, tambėm é bem verdade que testes de avaliação cognitiva demonstram que um “idoso” de 75 anos que se cuide bem fisicamente, que seja inteligente e que tenha uma vida cheia e produtiva tem uma melhor acuidade mental do que um “jovem” 30 anos mais novo que não faça exercício, que não tome cuidado com a alimentação e que não exercite o cérebro. 

O cérebro humano é adaptável, de modo que é sempre possível ganharmos novos conhecimentos ao longo da vida. E é por isso que eu dou mais importância à atitude e disponibilidade de cada um, do que ao “know-how” propriamente dito. E é por isso que eu acho o ditado português “burro velho não aprende” um grandessíssimo disparate. E é por por tudo isto que eu entendo que a grande maioria das ofertas de trabalho não devem ser destinadas a um determinado grupo etário.

Valores intrínsecos vs. extrínsecos: “Older workers tend to be motivated by causes like community, mission and a chance to make the world a better place; younger workers are more driven by factors that directly benefit themselves, such as money and promotions.” – Peter Cappelli, PhD

It's easier to learn a new skill with the right attitude, than to change a bad attitude into a good one.

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