Num
passado ainda não muito distante, defender os interesses dos trabalhadores era uma
das principais funções dos departamentos de recursos humanos. Aos poucos (direi
desde meados dos anos 80, princípio dos anos 90) isto tem vindo a mudar. Nestes
últimos trinta anos, a principal função do gerente de RH deixou de ser a de
garantir que os melhores talentos não só sejam contratados como, também (e
talvez ainda mais importante) retidos, para passar a ser o de “porta voz” do
conselho de administração, cujo principal foco é o de aumentar os lucros
trimestrais e cheques de dividendos em detrimento de metas e crescimento a
longo prazo. Hoje em dia os trabalhadores deixaram de ser uma das partes interessadas
no negócio (juntamente com clientes, acionistas e a comunidade onde a empresa
está inserida) para passarem a ser um “afterthought”, frequentemente vistos
como um “mal necessário.” É raro o Departamento de Administração das grandes
empresas de hoje que se preocupa com o bem-estar e segurança dos trabalhadores;
os únicos que importam agora são os acionistas.
A
maioria das empresas deixou de oferecer pensões, os seguros de saúde são cada
vez mais caros (e cada vez cobrem menos) e nunca se trabalhou tanto por menos.
As pessoas resignam-se ao “it is what it is/deal with it/don’t like it leave” e
enquanto virem as suas parcas poupanças renderem alguma coisa na carneirada da Bolsa
não se revoltam e continuam na ilusão do “better days will come.”
O resultado
de tudo isto é a falta de lealdade, uma verdadeira porta giratória de trabalhadores
que (por não se sentirem valorizados e por estarem desiludidos com promesas
falsas) decidem partir em busca de pastos mais verdes. Entretanto agatanham-se
uns aos outros, criam maus ambientes e enfrentam relações difíceis com os
nervos em franja. O resultado é um número obsceno de pessoas a sofrer e a lidar
com tudo isto da melhor maneira que sabem: medicando-se. Uma cambada de
marionetas, sonâmbulos sobrevivendo à custa de cafeína e anti-depressivos. Tudo
em nome do progresso. Tudo em nome do crescimento económico – de modo a
podermos comprar mais merda que não precisamos.
Sem comentários:
Enviar um comentário
(Insultos e SPAM serão eliminados)