Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

8 de janeiro de 2016

A importância da melancolia



Como seres humanos, a nossa tendência para evitar a tristeza é quase instintiva. Somos ensinados desde a mais tenra idade a evitar sentimentos de tristeza e agora, em adultos, apressamo-nos a apaziguar bebés que se encontram a chorar e a descartar os sentimentos de crianças aos soluços: "Não estejas triste...anima-te...não sejas bébé...tens de ser forte...para de chorar."

Aos adultos melancólicos, diz-lhes a sociedade que ser triste é uma caracteristica dos fracos. “Nunca ninguém disse que a vida tinha de ser justa. ‘Get yourself together and snap out of it’. Não és o único com problemas. Eu também tenho problemas, toda a gente tem problemas e, no entanto, não andamos todos por aí a choramingar todos deprimidos....” etc, etc, etc.

É esta a reacção normal perante a tristeza, mas será a tristeza algo de assim tão mau e a evitar a todo o custo? Eu acho que não. Há ocasiões em que a melancolia faz bem à alma.

A primeira coisa que acho deve ser feito é não confudir a tristeza (“os blues” a que todos temos direito de vez em quando) a quadros clínicos de depressão que nunca devem ser ignorados. Ao contrário da depressão, a tristeza é uma parte integrante da vida, geralmente ligada a determinados acontecimentos efémeros de dor e perda; a depressão, por seu turno, pode não ser devido a nenhum acontecimento em concreto nem aparentar nenhuma explicação plausível, ou pode resultar de uma reacção não saudável e de não-adaptação a um acontecimento doloroso.

A depressão pode deixar-nos "dormentes" face às nossas emoções, mas também pode trazer vergonha, sentimentos de culpa e autodesprezo, tudo isto incompatível com um comportamento construtivo, com energia e com vitalidade. Por outro lado, a tristeza pode despertar em nós uma emoção que serve para nos lembrar o que é realmente importante para nós, o que dá significado à nossa vida. Mas para que isto aconteça, é preciso estar atento e “in touch with yourself” como dizem os místicos orientais.

Supervalorizar acontecimentos passados, ruminar na nossa tristeza ou participar em autocomiseração não muda a nossa história e é potencialmente desastroso para o futuro. Por outro lado, visualizar a nossa tristeza como as ondas do mar lavando o nosso corpo até atingirem um pico doloroso e eventualmente dissipando toda a dor de volta para o oceano, pode-nos libertar das garras de tanto tormento. Quando isto acontece sentimo-nos rejuvenescidos.

Sentir a tristeza até ao cerne do nosso Ser pode-nos ajudar a melhor discernir o que é indispensável para nós e o que já não nos faz (ou alguma vez fez) falta.  
 

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