Como seres humanos,
a nossa tendência para evitar a tristeza é quase instintiva. Somos ensinados
desde a mais tenra idade a evitar sentimentos de tristeza e agora, em adultos,
apressamo-nos a apaziguar bebés que se encontram a chorar e a descartar os
sentimentos de crianças aos soluços: "Não
estejas triste...anima-te...não sejas bébé...tens de ser forte...para de chorar."
Aos adultos melancólicos, diz-lhes
a sociedade que ser triste é uma caracteristica dos fracos. “Nunca ninguém disse que a vida tinha de ser
justa. ‘Get yourself together and snap out of it’. Não és o único com
problemas. Eu também tenho problemas, toda a gente tem problemas e, no entanto,
não andamos todos por aí a choramingar todos deprimidos....” etc, etc, etc.
É esta a reacção normal
perante a tristeza, mas será a tristeza algo de assim tão mau e a evitar a todo
o custo? Eu acho que não. Há ocasiões em que a melancolia faz bem à alma.
A primeira coisa que acho
deve ser feito é não confudir a tristeza (“os blues” a que todos temos direito
de vez em quando) a quadros clínicos de depressão que nunca devem ser
ignorados. Ao contrário da depressão, a tristeza é uma parte integrante da
vida, geralmente ligada a determinados acontecimentos efémeros de dor e perda;
a depressão, por seu turno, pode não ser devido a nenhum acontecimento em
concreto nem aparentar nenhuma explicação plausível, ou pode
resultar de uma reacção não
saudável e de não-adaptação a um
acontecimento doloroso.
A depressão pode deixar-nos "dormentes" face às nossas
emoções, mas também pode trazer vergonha, sentimentos de culpa e autodesprezo, tudo
isto incompatível com um comportamento construtivo, com energia e com vitalidade.
Por outro lado, a tristeza pode despertar em nós uma emoção que serve para
nos lembrar o que é realmente importante
para nós, o que dá significado
à nossa vida. Mas para que isto
aconteça, é preciso estar atento e “in touch with yourself” como dizem os
místicos orientais.
Supervalorizar
acontecimentos passados, ruminar na nossa tristeza ou participar em
autocomiseração não muda a nossa história e é potencialmente desastroso para o
futuro. Por outro lado, visualizar a nossa tristeza como as ondas do mar
lavando o nosso corpo até atingirem um pico doloroso e eventualmente dissipando
toda a dor de volta para o oceano, pode-nos libertar das garras de tanto
tormento. Quando isto acontece sentimo-nos rejuvenescidos.
Sentir a tristeza até ao
cerne do nosso Ser pode-nos ajudar a melhor discernir o que é indispensável
para nós e o que já não nos faz (ou alguma vez fez) falta.
Sem comentários:
Enviar um comentário
(Insultos e SPAM serão eliminados)