Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

16 de agosto de 2014

Em pleno mês de Agosto (um mês de férias para muitos por esse mundo fora):

Um estudo recente do Center for Economic and Policy Research sobre as leis laborais de 21 Estados  membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico   (OCDE)  revela  o seguinte:

1-) Os  EUA são a única economia avançada onde a entidade patronal  não é obrigada a oferecer dias de descanso (férias e feriados) aos trabalhadores.

2-) Cabe a cada empresa decidir se oferece  (ou não) licenças com vencimento aos seus trabalhadores; por esta razão, quase ¼ dos trabalhadores americanos não recebe  nem feriados nem férias remuneradas.

3-) Esta falta de férias remuneradas é particularmente acentuada nos trabalhadores com baixos salários, nos que trabalham a tempo parcial e nos funcionários de pequenas e médias empresas:  enquanto que 90 % dos trabalhadores com salários  altos tem direito a férias pagas,  apenas 49 % dos trabalhadores  que recebem salários baixos usufre do mesmo direito; 91% dos que trabalham a tempo inteiro tem direito a férias pagas,  mas só 35% dos que trabalham a tempo parcial tem esse direito; e só 69% daqueles que trabalham para pequenas e médias empresas  recebe férias pagas, mas esse número já sobe para 86% quando se trata de uma empresa de grande dimensão como, por exemplo, uma multinacional.

4-) O fosso entre o que se passa nos Estados Unidos e no resto do mundo é ainda maior quando os feriados pagos são incluídos: a lei laboral dos EUA  não garante nenhum feriado pago, mas nos países mais ricos os trabalhadores recebem entre 5 a 13 feriados por ano, para além dos dias de férias a que já têm direito.

5-) Mesmo assim, só em 2012 os americanos não gozaram de cerca de meio bilhão de dias de férias a que tinham direito; e os motivos são vários: desde as preocupações do dia-a-dia (e um calendário demasiado cheio a contribuir para o esquecimento), a dificuldades financeiras e … à  insegurança no trabalho – o medo é um óptimo meio de controlar meio mundo!

6-) Mesmo quando tiram os seus míseros dias de férias, cerca de dois terços dos norte-americanos queixa-se de estar amarrado ao escritório – mesmo  encontrando-se fisicamente longe.

Para muitos, porém, estes dados são um motivo de orgulho:
  • Porque se deve viver para o trabalho;
  • Porque trabalhar mais de 40 horas por semana  e não tirar todos os dias de folga que a empresa tem a “gentileza” de oferecer é motivo de orgulho e prova de ser bom trabalhador;
  • Porque quem não almoce sentado à sua secretária e defronte do seu computador (ou quem tenha o desaforo de tirar mais de uma semana de férias de uma só vez) é preguiçoso e, por conseguinte, dispensável;
  • Porque só sendo  “workaholic” se é fiel e dedicado à empresa; 
  • Porque as férias são um luxo e não um direito humano;
  • E porque estas são apenas algumas das muitas razões que fazem dos EUA o melhor país do Mundo – God Bless America!

Eu, por outro lado, faço eco às palavras de Alan Grayson (D), congressista  da Florida:

"Esta é uma questão de justiça e igualdade para todos os americanos. Ė claro que alguns norte-americanos têm as suas férias pagas, mas um número cada vez maior não tem e isto num momento em que a classe média trabalha mais do que nunca. Exigir que as empresas paguem férias aos trabalhadores vai permitir que estes passem mais tempo com suas famílias, vai melhorar a sua saúde física e mental, e, finalmente, vai  torná-los em trabalhadores mais produtivos."

Até porque  um relatório do Bureau of Labor Statistics indica que o típico trabalhador americano trabalha hoje mais 160 horas do que trabalhava em 1976 e todos sabemos que o stress a longo prazo é nocivo para a saúde o que, por sua vez, contribui para o absenteísmo e para a perda de produtividade.  O resultado é um custo para as empresas de cerca de US $ 344B por ano. Patrões têm de perceber que as férias são boas não só para os seus empregados como também para a empresa; um funcionário descansado é um funcionário mais produtivo.

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