Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

16 de agosto de 2014

Carlos Lopes: desafiando as expectativas

No outro dia, em casa dos meus pais, vi uma entrevista com Carlos Lopes no canal de televisão português que eles assinam. Já admirava este senhor pelas suas proezas no mundo do atletismo, mas como nunca o tinha ouvido falar nunca me pude pronunciar sobre ele como pessoa. Mas depois de ver esta entrevista fiquei a gostar dele. Pareceu-me ser um homem simples, honesto e muito humilde, uma pessoa calma e serena (daquelas que estão bem consigo próprias) possuidor de um rosto a emanar  bondade, um brilhozinho matreiro nos olhos e um olhar altamente inteligente e focado a me fazer lembrar o de uma ave de rapina a se concentrar numa (insuspeita) presa; neste caso, a “presa” foi a medalha de ouro nos jogos olímpicos de 1984 em Los Angeles. Admiro muito pessoas que se focam de tal maneira nos seus objectivos  (frequentemente labutando contra a maré ) que não se deixam destrair por nada e não permitem que nenhum “velho do Restelo” pessimista os descarrilhem das suas jornadas e impeçam de realizar os seus sonhos. 

Pessoalmente não ganhei nada com aquela vitória, nem em nada contribui para ela, mas lembro-me bem de naquele fim de tarde há 30 anos atrás vibrar à distância com a minha irmã e mãe, as três com o nariz colado à televisão, a gritar “GO!...GO!!...GO!!!” seguindo-se de “He’s gonna win, he’s gonna win, he’s gonna win” e, finalmente, de “HE WON! HE WON! GANHOU!!!!!!!!!!...YEAH!!!...”

Infelizmente, também me lembro da desilusão no verão de 1976 (ainda em Coimbra) ao assistir à maratona dos jogos olímpicos de Montréal só para ver um matulão de um finlandês ao último minuto a ultrapassar um (então) franzininho Carlos Lopes, que acabou por conquistar a medalha de prata. Uma medalha de prata até não é nada mau, sobretudo para um país como Portugal que, na altura, não ganhava nada. Mas o Carlos Lopes não ficou satisfeito e, como disse nesta entrevista, aprendeu com os erros que então cometeu e que fizeram com que ficasse “só” em 2° lugar. Já na altura lembro-me de o admirar pela façanha em ter conseguido um resultado muito melhor do que a grande maioria dos outros concorrentes, apesar daquelas pernitas curtas e corpito franzino tão próprios dos portugueses da época. Acho a tenacidade “against all odds” uma qualidade de louvar:

  • Eu ia só para ganhar; sabia o que queria e sabia para onde ia (…) um sonho que eu tinha e que foi concretizado.”
  • “ (…) eu tinha a consciência do meu valor, trabalhei para aquele momento (…) eu vim para a maratona não para ser um maratonista comercial, mas sim para ser campeão olímpico. Ponto!
  • Dois anos e meio a preparar e a ver (imaginar) uma medalha de ouro.
  • Referindo-se a 1976: “Pois mas é que aquela era para ser de ouro e não foi, portanto eu aprendi muito com aquela derrota.”
  • Aprendi que devia trabalhar mais, ter consciência e estar mais atento.”


 
Obrigada, meu caro senhor, por todas as alegrias que proporcionou a tantos portugueses como eu e por servir de fonte de inspiração a tantos de nós.

Sem comentários:

Enviar um comentário

(Insultos e SPAM serão eliminados)