No outro dia, em casa dos meus pais, vi uma entrevista com
Carlos Lopes no canal de televisão português que eles assinam. Já admirava este
senhor pelas suas proezas no mundo do atletismo, mas como nunca o tinha ouvido
falar nunca me pude pronunciar sobre ele como pessoa. Mas depois de ver esta
entrevista fiquei a gostar dele. Pareceu-me ser um homem simples, honesto e
muito humilde, uma pessoa calma e serena (daquelas que estão bem consigo
próprias) possuidor de um rosto a emanar bondade, um brilhozinho matreiro nos olhos e
um olhar altamente inteligente e focado a me fazer lembrar o de uma ave de
rapina a se concentrar numa (insuspeita) presa; neste caso, a “presa” foi a
medalha de ouro nos jogos olímpicos de 1984 em Los Angeles. Admiro muito
pessoas que se focam de tal maneira nos seus objectivos (frequentemente labutando contra a maré ) que
não se deixam destrair por nada e não permitem que nenhum “velho do Restelo” pessimista
os descarrilhem das suas jornadas e impeçam de realizar os seus sonhos.
Pessoalmente não ganhei nada com aquela vitória, nem em nada
contribui para ela, mas lembro-me bem de naquele fim de tarde há 30 anos atrás
vibrar à distância com a minha irmã e mãe, as três com o nariz colado à
televisão, a gritar “GO!...GO!!...GO!!!” seguindo-se de “He’s gonna win, he’s
gonna win, he’s gonna win” e, finalmente, de “HE WON! HE WON!
GANHOU!!!!!!!!!!...YEAH!!!...”
Infelizmente, também me lembro da desilusão no verão de 1976
(ainda em Coimbra) ao assistir à maratona dos jogos olímpicos de Montréal só
para ver um matulão de um finlandês ao último minuto a ultrapassar um (então)
franzininho Carlos Lopes, que acabou por conquistar a medalha de prata. Uma
medalha de prata até não é nada mau, sobretudo para um país como Portugal que,
na altura, não ganhava nada. Mas o Carlos Lopes não ficou satisfeito e, como
disse nesta entrevista, aprendeu com os erros que então cometeu e que fizeram com
que ficasse “só” em 2° lugar. Já na altura lembro-me de o admirar pela façanha
em ter conseguido um resultado muito melhor do que a grande maioria dos outros
concorrentes, apesar daquelas pernitas curtas e corpito franzino tão próprios
dos portugueses da época. Acho a tenacidade “against all odds” uma qualidade de
louvar:
- “Eu ia só para
ganhar; sabia o que queria e sabia para onde ia (…) um sonho que eu tinha e que
foi concretizado.”
- “ (…) eu
tinha a consciência do meu valor, trabalhei para aquele momento (…) eu vim para
a maratona não para ser um maratonista comercial, mas sim para ser campeão
olímpico. Ponto!”
- Dois anos e meio a preparar e a ver
(imaginar) uma medalha de ouro.
- Referindo-se a 1976: “Pois mas é que aquela era para ser de ouro e não foi, portanto eu
aprendi muito com aquela derrota.”
- “Aprendi
que devia trabalhar mais, ter consciência e estar mais atento.”
Obrigada, meu caro senhor, por todas as alegrias que
proporcionou a tantos portugueses como eu e por servir de fonte de inspiração a
tantos de nós.
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