Portamo-nos bem, trabalhamos muito para ter boas notas e/ou
pagar propinas, crescemos e entramos no mundo dos negócios, todos
esperançados mas verdes como tudo.
Depressa aprendemos duas coisas: (1) Agradar aos nossos
superiores e outras figuras de autoridade, e (2) Trabalhar que nem cão de modo a
obter o máximo possível de recompensas extrínsicas.
Frequentemente sem que nos apercebamos, somos levados a
crer que motivadores extrínsecos (como o
estatuto acompanhado de um salário chorudo e título que
permitam uma determinada condição social) são mais importantes do que os
motivadores intrínsecos (como o amor, o
gosto pelo que fazemos, a participação, a criatividade, a liberdade).
Somos condicionados. Deixamo-nos enganar. Caimos que nem
uns patinhos.
Acontece que quando trabalhamos por motivadores
extrínsecos em vez de intrínsecos, quando ignoramos a nossa vozinha interior a
querer nos guiar por outros trilhos, corremos o risco de nos tornar egoístas,
indiferentes, insensíveis, hiper-competitivos, obstinados, cruéis. Até que um belo dia
olhamos para o espelho e deparamo-nos com autênticos monstros
irreconhecíveis até a nós mesmos.
Porque a insensibilidade não é propícia à inclusão e
equidade, formamos núcleos de salve-se-quem-puder, sociedades inteiras de ricos e pobres, de
“haves and have-nots”.
Infelizmente, também é frequente a vida familiar sofrer. Afastamo-nos
daqueles que nos são mais queridos, partimos, alienamos velhas amizades, divorciamo-nos... e
“enrolamo-nos” com colegas de trabalho com quem nos identificamos e
comiseramos. Anos mais tarde arrependemo-nos e sofremos porque queremos voltar
atrás,
queremos regressar às nossas raízes, às nossas origens, para o pé da “nossa gente” e não podemos. Tarde
demais. A vida continuou e eles há muito que partiram para outra. Ficam-nos as lições valiosas que
não nos servem
para nada. 😢 💔
Nos Estados Unidos (a realidade com que estou mais
familiarizada) é raro encontrar alguém com um trabalho que considere aliciante.
E as pessoas que têm a sorte de ter empregos estão tão sobrecarregadas de
trabalho que a maioria não usa todos os dias de férias a que tem direito. Muitas
são as que
têm dois
(ou mais) trabalhos. Fazem-no por falta de tempo e para evitarem ser mais
facilmente substituídos. Fazem-o para poderem
viver uma vida condigna, mas também o fazem para adquirir uma série de produtos
luxuosos, desnecessários e descartáveis. Fazem-o “to keep up with the Joneses.”
Há que regressar às origens. Verdade que é impossível subsistir sem dinheiro suficiente que nos proporcione um certo
conforto, mas isto vai muito além de mera “subsistência.” Isto vai
direitinho à avareza e à obsessão pelo poder. Isto é tudo impulsionado pelo ego. Isto é tudo para dar
nas vistas. Isto é tudo para provarmos (a nós e aos outros) de que somos capazes: “Olha para mim, ao que eu cheguei apesar das
minhas humildes origens...eu sou o maior...”
É tudo uma tela de fumo.
A verdade é que a grande maioria de nós não necessita de
metade da riqueza material que acumulamos ao longo dos anos. O que precisamos é
de mais compreensão, mais perdão, mais ajuda e trabalho em equipe.
O que precisamos é de mais compaixão. Compaixão por
outras pessoas, compaixão por nós mesmos.
Precisamos de nos concentrar mais nos motivadores
intrínsecos e menos nos extrínsecos. Precisamos de prestar atenção aos sussurros
dos nossos corações. Se conseguirmos fazer isso, ficará claro que a
desigualdade que nos rodeia não deve ser aceite; depois, intrinsecamente,
devemos fazer algo a esse respeito. Quando seguimos o nosso coração sentimo-nos
mais realizados e mais compassivos. As
nossas vidas estão de tal maneira entrelaçadas, que quanto mais verdadeiros
formos a nós mesmos, mais ligados nos sentiremos aos outros e mais sensíveis ao mal
alheio ficaremos. Isto é algo que eu estou a começar a perceber, e é por isso que a
minha vida tem dado tanto reboliço neste último ano e meio e prepara-se para dar ainda mais
voltas. Para além de muita boa vontade, isto é algo que requer uma enorme dose de coragem e
transformação. Incrivelmente gratificante. Tudo
menos fácil.
São estas as necessidades humanas fundamentais. Tudo o
resto é secundário.
Estamos todos juntos neste jogo que não tem,
necessariamente, de ser sujo; por isso, deviamos era apoiarmo-nos mutuamente em
vez de nos comportarmos como se de uma verdadeira luta de galos de capoeira se
tratasse. Deviamos regressar ao que eu gosto de designar “as origens”
i.e., àquilo que é importante para
nós e não ao que a
sociedade entende ser importante para nós. Só assim será possível polinizar a compaixão, só assim
toleraremos menos a desigualdade de modo a, então, vivermos numa
sociedade tão equitativa quanto humanamente possível.
Antes que seja tarde demais.
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