Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

6 de setembro de 2015

A destruição do Estado social (justiça vs sustentar malandros)



Já muito foi escrito e debatido sobre aquilo que, a meu ver, é uma das casualidades mais graves deste nosso mundo contemporâneo.  Como o propósito deste texto não é o de alargar-me muito sobre o assunto segue-se, apenas, uma síntese daquilo que penso sobre algo que tanta polémica gera e que tanto me incomoda e preocupa.

Basta conhecer um pouco de História para saber que a luta entre as classes não é nada de novo. Desde sempre que quem passa fome e dorme ao relento coexiste com aqueles que desperdiçam os “restos” do que lhes sobra e desde sempre que houve opressores e oprimidos.  A injustiça social, portanto, não é nada de novo, mas não é por isso que me deixa de inquietar.

Apesar de todos os seus inconvenientes, a análise estatística é algo que me atrai e os seguintes dados sobre a população mundial indignam-me:
1-) 25% vive em pobreza abjecta: abandonados, esquecidos, desamparados, desesperados.
2-) Enquanto que mais de 80% detem pouco mais de 21% do rendimento global, quase 15%  detem 78,5% do rendimento global.
3-) As 85 pessoas mais ricas do mundo são tão ricas como ½ da população mundial. MIND-BOGGLING!!!

Estes dados são uma vergonha:
 http://blogs-images.forbes.com/frederickallen/files/2012/10/300px-2008_Top1percentUSA1.png
E o que é que aconteceu em 1929? E o que é que aconteceu em 2008?


Penso ser importante lembrar que a actual fórmula usada na distribuição de rendimentos aumenta os níveis de fome, de desigualdade e de injustiça social do planeta. É igualmente importante termos estes tristes dados em mente sempre que se debate os méritos do Estado social, quando fazemos frente a esta campanha desenfreada a que temos assistido nos últimos 30 anos por parte da ala mais conservadora da sociedade em convencer o eleitorado dos benefícios do Estado mínimo, do capitalismo selvagem, do individualismo e das teorias de “supply-side economics” de Ronald Reagan, Margaret Thatcher, Milton Friedman e Ayn Rand (entre outros), ao mesmo tempo que argumentos (infelizmente convincentes) de que o Estado social (ou “big government”) é a raiz de todos os males (algo próprio de comunistas traidores e antipatrióticos, caro e pago pelo contribuente trabalhador para sustentar preguiçosos) ganham cada vez mais terreno


 http://www.impactpress.com/articles/febmar02/socialsecurity-web.gif


Desigualdades económicas criam opressão e, se ao longo dos tempos o povo conquistou alguns dos direitos humanos de que hoje usufre, não o deve à compaixão, boa vontade ou solidariedade dos governantes, mas sim a imensa luta, audácia, a inúmeras manifestações de ira, distúrbios sociais e, inclusivé, a revoluções de que resultou muito sangue derramado e muita cabeça perdida – literalmente! 

O direito de propriedade deve pertencer a todos e a liberdade deve ir muito além de riqueza pessoal e da concentração do poder económico nas mãos de meia dúzia de tios Patinhas:
 http://i.dailymail.co.uk/i/pix/2009/10/21/article-0-06E9AB41000005DC-664_468x334.jpg
Santíssimo Sacramento!

O Estado social é um Estado de direito que deve ser mantido.  O Estado social é uma questão de democracia, fraternidade, dignidade e dos direitos inalienáveis a que todos temos direito; o homem que tenha liberdade de expressão mas que seja deixado aos seus próprios dispositivos para obter comida e abrigo numa sociedade onde o individualismo é rei, vive sob o jugo da lei da selva, não numa democracia verdadeira.

Podia dizer muito mais sobre este assunto mas fico-me por aqui, antes que uma súbita subida de tensão arterial me leve desta para melhor.


 

Sem comentários:

Enviar um comentário

(Insultos e SPAM serão eliminados)