Já muito foi escrito e debatido sobre aquilo que, a meu ver,
é uma das casualidades mais graves deste nosso mundo contemporâneo. Como o propósito deste texto não é o de
alargar-me muito sobre o assunto segue-se, apenas, uma síntese daquilo que
penso sobre algo que tanta polémica gera e que tanto me incomoda e preocupa.
Basta conhecer um pouco de História para saber que a luta
entre as classes não é nada de novo. Desde sempre que quem passa fome e dorme
ao relento coexiste com aqueles que desperdiçam os “restos” do que lhes sobra e
desde sempre que houve opressores e oprimidos.
A injustiça social, portanto, não é nada de novo, mas não é por isso que
me deixa de inquietar.
Apesar de todos os seus inconvenientes, a análise
estatística é algo que me atrai e os seguintes dados sobre a população mundial indignam-me:
1-) 25%
vive em pobreza abjecta: abandonados, esquecidos, desamparados, desesperados.
2-) Enquanto que mais de 80% detem pouco mais de 21% do rendimento
global, quase 15% detem 78,5% do
rendimento global.
3-) As 85 pessoas mais ricas do mundo são tão ricas como ½ da
população mundial. MIND-BOGGLING!!!
Estes dados são uma vergonha:
E o que é que aconteceu em 1929? E o que é que aconteceu em
2008?
Penso ser importante lembrar que a actual fórmula usada na distribuição
de rendimentos aumenta os níveis de fome, de desigualdade e de injustiça social
do planeta. É igualmente importante termos estes tristes dados em mente sempre
que se debate os méritos do Estado social, quando fazemos frente a esta campanha
desenfreada a que temos assistido nos últimos 30 anos por parte da ala mais
conservadora da sociedade em convencer o eleitorado dos benefícios do Estado
mínimo, do capitalismo selvagem, do individualismo e das teorias de
“supply-side economics” de Ronald Reagan, Margaret Thatcher, Milton Friedman e
Ayn Rand (entre outros), ao mesmo tempo que argumentos (infelizmente
convincentes) de que o Estado social (ou “big government”) é a raiz
de todos os males (algo próprio de comunistas traidores e antipatrióticos,
caro e pago pelo contribuente trabalhador para sustentar preguiçosos) ganham
cada vez mais terreno.
Desigualdades económicas criam opressão e, se ao longo dos
tempos o povo conquistou alguns dos direitos humanos de que hoje usufre, não o
deve à compaixão, boa vontade ou solidariedade dos governantes, mas sim a
imensa luta, audácia, a inúmeras manifestações de ira, distúrbios sociais e,
inclusivé, a revoluções de que resultou muito sangue derramado e muita cabeça
perdida – literalmente!
O direito de
propriedade deve pertencer a todos e a liberdade deve ir muito além de riqueza
pessoal e da concentração do poder económico nas mãos de meia dúzia de tios
Patinhas:
Santíssimo Sacramento!
O Estado social é um Estado de direito que deve ser
mantido. O Estado social é uma questão
de democracia, fraternidade, dignidade e dos direitos inalienáveis a que todos
temos direito; o homem que tenha liberdade de expressão mas que seja deixado
aos seus próprios dispositivos para obter comida e abrigo numa sociedade onde o
individualismo é rei, vive sob o jugo da lei da selva, não numa democracia
verdadeira.
Podia dizer muito mais sobre este assunto mas fico-me por
aqui, antes que uma súbita subida de tensão arterial me leve desta para melhor.
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