Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

11 de outubro de 2014

Ora porra, porra, porra !!!


No dia em que se comemora o Dia Internacional da Rapariga, li um artigo na revista The Economist intitulado “Gendercide ” que me mexeu muito com os botões da injustiça e ignorância. Este artigo explica as razões porque  pelo menos 100 milhões de fetos são abortados e crianças desaparecem da face da terra, são raptadas, têm acesso limitado à educação, sofrem de malnutrição, ou são negligenciadas, vendidas, vítimas de violência e mesmo assassinadas pela próprias famílias; o seu crime? Pertencerem ao sexo feminino! 

São diversos os factores que levam muitos destes pais a preferir os filhos às filhas: ou porque, à partida, os filhos terão maior capacidade física para o trabalho árduo; ou porque  costumes tradicionais retrógados ditam que apenas os filhos podem herdar a terra; ou porque a pobreza da família não permite dar um dote a uma filha; ou, então, porque a pobreza extrema leva muitas famílias a venderem as próprias filhas ao maior licitante – como se de um leilão de gado se tratasse! Não quero fazer deste post um trabalho de sociologia (embora ache essa ideia interessante), de modo que limito-me a dizer que estas decisiões estão na origem de muitos problemas sociais. 

Mas que se desengane quem pensa que o generocídio é uma prática exclusiva à pobreza, própria de uma determinada religião, ou confinada a uma zona geográfica; longe disso. O generocídio existe em quase todos os continentes e afecta ricos e pobres; instruídos e analfabetos; hindus, muçulmanos, confucionistas e cristãos. O generocídio só descrimina no que respeita ao sexo da criança.  Hoje em dia muitos pais preferem famílias mais pequenas e, com o acesso cada vez mais facilitado a tecnologias tipo ecografia, é cada vez maior o número de abortos selectivos exclusivamente baseados no sexo do feto. Só na China e no norte da Índia, por exemplo, para cada 100 raparigas nascem mais de 120 rapazes.

Algumas estatísticas incompreensíveis:

1-) Porque menos de 40 por cento dos países garantem a igualdade de acesso à educação entre os sexos as mulheres representam, em pleno séc. XXI, mais de dois terços da população analfabeta. 

2-) 35 é a percentagem de mulheres em todo o mundo que são (ou já foram) vítimas de violência doméstica. Isto não só é uma violação terrível dos direitos humanos básicos como, também, uma grave ameaça para a saúde pública. As mulheres que foram física ou sexualmente abusadas pelos seus parceiros são quase duas vezes mais propensas a sofrer de depressão e têm mais probabilidade de adquirir doenças sexualmente transmissíveis. Raios partam os cobardes que fazem isto às suas companheiras! 

3-) Quase 1,65 bilhão of mulheres e raparigas em todo o mundo subsiste com $2.00 por dia. Em média as mulheres não desfrutam das mesmas oportunidades de emprego do que os homens, nem são remuneradas tão bem como estes – mesmo desempenhado as mesmas funções e tendo as mesmas qualificações. Vivendo em situação de pobreza abjecta, as mulheres ficam mais vulneráveis ​​à violência, têm uma taxa de mortalidade mais elevada, e são alienadas dos processos decisórios.

4-) 1/3 de meninas (crianças, pré-adolescentes e adolescentes) são forçadas a casar, muitas vezes com homens muito mais velhos e desconhecidos. Depois aqui também pode entrar o “crime” de “desonra à família.” Conhecendo-me como me conheço, lembrando-me bem daquilo que eu era antes da idade adulta, isto deixa-me extremamente perturbada. 

5-) Mais de 14 milhões de raparigas com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos dão à luz todos os anos; isto, por seu turno, resulta em riscos de saúde significativos: as complicações de parto são a maior causa de morte de adolescentes entre os 15 e os 19 anos de idade. Para além de salvar vidas, adiar o casamento e a gravidez para mais uns aninhos permite que estas mulheres acabem os seus estudos e contribuam para o desenvolvimento social e económico da região.

6-) 1,92 milhões representa o número de mulheres e raparigas por todo o mundo que são vítimas de tráfico de seres humanos – com a exploração sexual a principal força impulsionadora. De acordo com as estatísticas do FBI, de todo o crime organizado este é o que mais cresce. É demasiado fácil enganar estas mulheres economicamente desfavorecidas com promessas falsas de emprego para depois lhes retirarem os passaportes e forçá-las a trabalhar como prostitutas

Estas estatísticas, para além de serem deveras preocupantes, também representam uma tendência que tem vindo a aumentar. Mostram a ignorância e a podridão tão patente em certos segmentos da sociedade por esse mundo fora. Só muito esforço e uma forte dose de educação, sensibilização,  perspicácia e visão para atenuar e mitigar este problema, para acabar com tanta maldade e com estas “mentalidades de cavernas”  de uma vez por todas. Acredito que seja possível, mas para que isso aconteça também é preciso uma boa dose de boa vontade – aí já não tenho tanta certeza...

O que tenho é a certeza do seguinte: estes dados deixam-me FULA!!! 


Alguém interessado pode ler mais aqui:



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