No
dia em que se comemora o Dia Internacional da Rapariga, li um artigo na revista
The Economist intitulado “Gendercide ”
que me mexeu muito com os botões da injustiça e ignorância. Este artigo explica
as razões porque pelo menos 100 milhões de fetos são abortados e crianças desaparecem da face da terra, são
raptadas, têm acesso limitado à
educação, sofrem de malnutrição, ou são negligenciadas, vendidas, vítimas de violência e mesmo assassinadas
pela próprias famílias; o seu crime? Pertencerem ao sexo feminino!
São
diversos os factores que levam muitos destes pais a preferir os filhos às
filhas: ou porque, à partida, os filhos terão maior capacidade física para o trabalho árduo; ou porque costumes tradicionais retrógados ditam que apenas os filhos podem herdar a terra;
ou porque a pobreza da família não permite dar um dote a uma filha; ou, então,
porque a pobreza extrema leva muitas famílias a venderem as próprias filhas ao
maior licitante – como se de um leilão de gado se tratasse! Não quero fazer deste post um trabalho de
sociologia (embora ache essa ideia interessante), de modo que limito-me a dizer
que estas decisiões estão na origem de muitos problemas sociais.
Mas
que se desengane quem pensa que o generocídio é uma prática exclusiva à
pobreza, própria de uma determinada religião, ou confinada a uma zona
geográfica; longe disso. O generocídio existe em quase
todos os continentes e afecta ricos e pobres; instruídos e analfabetos; hindus, muçulmanos, confucionistas e cristãos.
O generocídio só descrimina no que respeita ao sexo da criança. Hoje em dia muitos pais preferem famílias
mais pequenas e, com o acesso cada vez mais facilitado a tecnologias tipo
ecografia, é cada vez maior o número de abortos selectivos exclusivamente baseados
no sexo do feto. Só na China e no norte da Índia, por
exemplo, para cada 100 raparigas nascem mais de 120 rapazes.
Algumas estatísticas incompreensíveis:
1-) Porque menos de 40 por cento dos países garantem a igualdade
de acesso à educação entre os sexos as mulheres
representam, em pleno séc. XXI, mais de dois terços
da população analfabeta.
2-) 35 é a percentagem de mulheres em todo o mundo
que são (ou já foram) vítimas de
violência doméstica. Isto não só
é uma violação terrível dos direitos humanos básicos como, também, uma
grave ameaça para a saúde pública. As mulheres que foram física ou sexualmente
abusadas pelos seus parceiros são quase duas vezes mais propensas a sofrer de depressão e têm mais probabilidade de adquirir doenças sexualmente
transmissíveis. Raios partam os cobardes que fazem isto às suas companheiras!
3-) Quase 1,65 bilhão of mulheres e raparigas em todo o mundo subsiste com
$2.00 por dia. Em média as mulheres não desfrutam das mesmas oportunidades de
emprego do que os homens, nem são remuneradas tão bem como estes – mesmo
desempenhado as mesmas funções e tendo as mesmas qualificações. Vivendo em
situação de pobreza abjecta, as mulheres ficam mais vulneráveis à
violência, têm uma taxa de mortalidade
mais elevada, e são alienadas dos processos decisórios.
4-) 1/3 de meninas (crianças, pré-adolescentes e adolescentes) são forçadas a
casar, muitas vezes com homens muito mais velhos e desconhecidos. Depois aqui
também pode entrar o “crime” de “desonra à família.” Conhecendo-me como me
conheço, lembrando-me bem daquilo que eu era antes da idade adulta, isto
deixa-me extremamente perturbada.
5-) Mais de 14 milhões de raparigas com idades compreendidas entre os 15 e os 19
anos dão à luz todos os anos; isto, por seu turno,
resulta em riscos de saúde significativos: as complicações de parto são a maior
causa de morte de adolescentes entre os 15 e os 19 anos de idade. Para além de
salvar vidas, adiar o casamento e a gravidez para mais uns aninhos permite que
estas mulheres acabem os seus estudos e contribuam para o desenvolvimento social
e económico da região.
6-) 1,92 milhões representa o número de mulheres e raparigas por todo o mundo que são vítimas de tráfico de seres humanos –
com a exploração sexual a principal
força impulsionadora. De acordo com as estatísticas do FBI, de todo o crime
organizado este é o que mais cresce. É demasiado fácil enganar estas mulheres economicamente desfavorecidas com
promessas falsas de emprego para depois lhes retirarem os passaportes e
forçá-las a trabalhar como prostitutas.
Estas estatísticas,
para além de serem deveras preocupantes, também representam uma tendência que tem
vindo a aumentar. Mostram a ignorância e a podridão tão patente em certos segmentos da
sociedade por esse mundo fora. Só muito esforço e uma forte dose de educação, sensibilização, perspicácia e visão para atenuar e mitigar este problema,
para acabar com tanta maldade e com estas “mentalidades de cavernas” de uma vez por todas. Acredito que seja
possível, mas para que isso aconteça também é preciso uma boa dose de boa
vontade – aí já não tenho tanta certeza...
O que tenho é a
certeza do seguinte: estes
dados deixam-me FULA!!!
Alguém interessado pode ler mais aqui:
Sem comentários:
Enviar um comentário
(Insultos e SPAM serão eliminados)