Num dia cinzento e frio de inverno a cheirar a neve, estava a
fumar um cigarro à porta do estabelecimento
para onde eu ia a entrar: cabelo cor-de-laranja, rabo de cavalo, brincos (plural)
em cada orelha, camisa de cores garridas às riscas, calças de ganga todas
esburacadas abaixo do rabo, cuecas encarnadas à vista (para quê o cinto?), botas
à militar. Pensei que fosse um sem-abrigo a abrir portas a troco de gorjetas. Cumprimentei-o, agradeci-lhe segurar-me na
porta e fui à minha vida. Ele continuou naquele frio a acabar o seu cigarro – ai
vício, vício, a quanto obrigas. Nunca o tinha visto mais gordo.
Às tantas aparece ao meu lado, a tresandar a cinzeiro cheio
de beatas de cigarros e começa a “filosofar”. Começou por me perguntar se eu já
estava preparada para o Natal, se já tinha feito as compras todas e o que
queria que o Pai Natal me trouxesse. Respondi que queria paz, muita paz…e saúde.
¡Dios mío! que fui eu dizer… Com um
sotaque um tanto difícil de se entender, falou sobre existencialismo; responsabilidade
pessoal; do (verdadeiro) espirito natalício e do Thanksgiving; das aparências e
do que verdadeiramente conta e vale a pena; da importância de ouvirmos sempre o
nosso coração e de seguirmos sempre o nosso instinto; de crianças e cães; de luz,
de escuridão; de água, ar e fogo; de bondade, de maldade, de gratidão; de
generosidade, de compaixão e de egoismo; disse que não devemos julgar ninguém,
que devemos abençoar mesmo aqueles para quem fazer mal aos outros parece ser um
hobby preferido e que não nos devemos sentir culpados por afastar pessoas tóxicas
das nossas vidas, incluindo a nossa própria mãe. Depois sai-se com “preciosidades” destas: “Don’t
let anyone convince you that you are not beautiful. You are beautiful. You are
unique. You are special.” Sem nunca me ter visto, sem saber nada sobre mim.
Eu sei lá que mais ele disse…É que não se calava… Pensamento
puxa pensamento, ora em prosa ora em verso. E eu ali, a ouvi-lo, mesmerizada, simultaneamente
desejando que ele se calasse e com vontade de que continuasse. Mal pude abrir a
boca. E eu que pensava que os meus pensamentos precisavam de rédeas…Apre!!!...
Ainda me custa a crer esta minha experiência desta manhã.
Where did you come from, young man? Who sent you my way? You
were probably not born yet, but I could have used your wisdom thirty years ago.
What an interesting human being you turned out to be behind that mask you wear.
Those two other people who came in after, who were clearly uncomfortable with
you and didn’t give you the time of day? It’s their loss. Stay well, buddy.
Stay warm. Stay healthy. This world needs more like you. I will never forget
you.
A piece of advice to anyone reading this:
Never judge a book by its cover. You’ll never know what you might be
missing.
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