Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

18 de dezembro de 2014

O filósofo vietnamita



Num dia cinzento e frio de inverno a cheirar a neve, estava a fumar um cigarro à porta do estabelecimento para onde eu ia a entrar: cabelo cor-de-laranja, rabo de cavalo, brincos (plural) em cada orelha, camisa de cores garridas às riscas, calças de ganga todas esburacadas abaixo do rabo, cuecas encarnadas à vista (para quê o cinto?), botas à militar. Pensei que fosse um sem-abrigo a abrir portas a troco de gorjetas.  Cumprimentei-o, agradeci-lhe segurar-me na porta e fui à minha vida. Ele continuou naquele frio a acabar o seu cigarro – ai vício, vício, a quanto obrigas. Nunca o tinha visto mais gordo.

Às tantas aparece ao meu lado, a tresandar a cinzeiro cheio de beatas de cigarros e começa a “filosofar”. Começou por me perguntar se eu já estava preparada para o Natal, se já tinha feito as compras todas e o que queria que o Pai Natal me trouxesse. Respondi que queria paz, muita paz…e saúde. ¡Dios mío! que fui eu dizer… Com  um sotaque um tanto difícil de se entender, falou sobre existencialismo; responsabilidade pessoal; do (verdadeiro) espirito natalício e do Thanksgiving; das aparências e do que verdadeiramente conta e vale a pena; da importância de ouvirmos sempre o nosso coração e de seguirmos sempre o nosso instinto; de crianças e cães; de luz, de escuridão; de água, ar e fogo; de bondade, de maldade, de gratidão; de generosidade, de compaixão e de egoismo; disse que não devemos julgar ninguém, que devemos abençoar mesmo aqueles para quem fazer mal aos outros parece ser um hobby preferido e que não nos devemos sentir culpados por afastar pessoas tóxicas das nossas vidas, incluindo a nossa própria mãe.  Depois sai-se com “preciosidades” destas:  Don’t let anyone convince you that you are not beautiful. You are beautiful. You are unique. You are special.” Sem nunca me ter visto, sem saber nada sobre mim.

Eu sei lá que mais ele disse…É que não se calava… Pensamento puxa pensamento, ora em prosa ora em verso. E eu ali, a ouvi-lo, mesmerizada, simultaneamente desejando que ele se calasse e com vontade de que continuasse. Mal pude abrir a boca. E eu que pensava que os meus pensamentos precisavam de rédeas…Apre!!!...

Ainda me custa a crer esta minha experiência desta manhã.

Where did you come from, young man? Who sent you my way? You were probably not born yet, but I could have used your wisdom thirty years ago. What an interesting human being you turned out to be behind that mask you wear. Those two other people who came in after, who were clearly uncomfortable with you and didn’t give you the time of day? It’s their loss. Stay well, buddy. Stay warm. Stay healthy. This world needs more like you. I will never forget you.

A piece of advice to anyone reading this:
Never judge a book by its cover. You’ll never know what you might be missing.

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