Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

15 de dezembro de 2015

Ambiguidade: como lidar com os perigos



A incerteza é perigosa. Ao provocar um intenso mal-estar, a incerteza pode alimentar teorias de conspiração e, quando confrontados com opiniões contraditórias, a ambiguidade de outras pessoas faz com que frequentemente tenhamos tendência de ver padrões onde eles não existem e a abraçar a certeza quando nada a justifica; isto, por sua vez, tem sido responsável por muitas más decisões.

A maioria dos dias começa e termina com a incerteza; mesmo quando enrolados num casulo acolhedor da previsibilidade, tudo pode mudar num abrir e fechar de olhos. Por muito que se queira (e tente) controlar o futuro, o melhor a fazer é confiar na nossa capacidade de adaptação a curto prazo e lembrar que, a longo prazo, nada dura para sempre. A minha mãe é que tem razão ao dizer que há cura para tudo menos para a morte.

Todos nós passamos por determinadas fases da vida em que fazemos o que precisa de ser feito para sobreviver ou lidar com as incertezas da vida. Então, tomamos decisões que aqueles que nos são próximos criticam. Um medo paralisante de criar algo de novo pode-nos levar a viver vidas errantes; não podemos decepcionar os outros se não estabelecermos relações com eles, e  não podemos falhar se nunca começármos. Alguns vivem sem criar raízes, outros preferem viver autênticos “bichos do buraco”; ambos sem nunca deixarem laços e ambos o fazem para se protegerem. 

A realidade é que a certeza não passa de uma ilusão. Mesmo com a melhor preparação, é impossível controlar tudo no universo. A segurança do emprego está dependente de vários factores que o mais comum dos mortais não pode controlar, e relações interpessoais mudam consoante o crescimento de cada um de nós e da nossa maneira de ver o mundo. A realidade é que não existem garantias, por muito bem planeados os nossos planos. E é precisamente por não haver garantias que a vida deve ser saboreada (e criada) momento a momento, dia a dia. É importante estabelecer planos, metas e golos, mas temos de estar preparados quando as coisas (por motivos externos) não nos correm como queremos.

Quando formamos expectativas, corremos o risco de sofrer com a desilusão. Podemos traçar o amanhã, mas não podemos controlar o resultado. Quando esperamos o pior, corremos o risco que a nuvem negra pairando sobre nós nos impeça de ver (e tirar partido) das oportunidades; ao invés, expectativas demasiado altas podem criar uma visão difícil de atingir. Em vez de esperarmos algo de concreto do futuro (por exemplo, pensamentos positivos sobre algo que está fora do nosso alcance) devemos é concentrarmo-nos no que precisamos de fazer para que os nossos golos sejam realizados e metas alcançadas. 

A parte mais difícil da incerteza, pelo menos para mim, é a incapacidade de planear e aquele sentimento de perder o controlo sobre o resultado de decisões que afectam o meu futuro e o dos meus ente-queridos. Sentir-me de "mãos atadas" deixa-me completamente fora de mim e aquele sentimento de “mero observador” é uma luta constante que faço por aceitar, mas nem sempre consigo.  

O truque reside em acreditar na nossa capacidade de lidar com resultados eventualmente longe de ideais. Em The Positive Power of Negative Thinking, Julie K Norem explica que, para certas pessoas, o pessimismo é uma forma de mecanismo de defesa; para estas pessoas (entre as quais eu me incluo) o medo da dor da decepção é tal, que acreditar que o pior pode acontecer é preferível a uma eventual “queda das nuvens” – que é o que frequentemente segue os pensamentos positivos. Quando nos convencemos que o pior vai acontecer, preparamo-nos melhor e não sofremos tanto; por outro lado, corremos o risco de sofrer duas vezes: uma por antecipação, outra na realidade. Dito isto, não me considero uma pessoa pessimista, antes pelo contrário, mas convencer-me que o pior vai acontecer ajuda-me a lidar com a ansiedade das incertezas da vida.

Frequentemente andamos tão obcecados (e receosos) com as coisas que não podemos controlar, que não nos apercebemos das pequeninas coisas que podemos fazer para controlar o destino; isto, obviamente, é um erro, na medida em que nos faz perder oportunidades. 

A incerteza pode manter-nos acordados à noite, obcecando sobre as diferentes maneiras de nos proteger de tudo o que possa correr mal...ou pode-nos motivar a aceitar a vida tal como ela é, a viver (e a apreciar) cada momento tal como ele é, e abraçar a aventura de viver.

É isso mesmo: a vida é uma constante aventura onde se conhecem pessoas maravilhosas e aprendem lições valiosas. E é assim que deve ser vivida.

A certeza é uma ilusão;
A felicidade é efémera;
A dor efémera é.

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