A incerteza é perigosa. Ao provocar um intenso mal-estar, a
incerteza pode alimentar teorias de conspiração e, quando confrontados com
opiniões contraditórias, a ambiguidade de outras pessoas faz com que
frequentemente tenhamos tendência de ver padrões onde eles não existem e a
abraçar a certeza quando nada a justifica; isto, por sua vez, tem sido responsável
por muitas más decisões.
A maioria dos dias começa e termina com a incerteza; mesmo quando
enrolados num casulo acolhedor da previsibilidade, tudo pode mudar num abrir e
fechar de olhos. Por muito que se queira (e tente) controlar o futuro, o melhor
a fazer é confiar na nossa capacidade de adaptação a curto prazo e lembrar que,
a longo prazo, nada dura para sempre. A minha mãe é que tem razão ao dizer que
há cura para tudo menos para a morte.
Todos nós passamos por determinadas fases da vida em que
fazemos o que precisa de ser feito para sobreviver ou lidar com as incertezas
da vida. Então, tomamos decisões que aqueles que nos são próximos criticam. Um
medo paralisante de criar algo de novo pode-nos levar a viver vidas errantes; não
podemos decepcionar os outros se não estabelecermos relações com eles, e não podemos falhar se nunca começármos.
Alguns vivem sem criar raízes, outros preferem viver autênticos “bichos do
buraco”; ambos sem nunca deixarem laços e ambos o fazem para se protegerem.
A
realidade é
que a certeza não passa de uma ilusão. Mesmo com a melhor preparação,
é impossível controlar tudo no universo.
A segurança do emprego está dependente de
vários factores que o mais comum dos mortais não pode controlar, e relações
interpessoais mudam consoante o crescimento de cada um de nós e da nossa
maneira de ver o mundo. A realidade é que não existem garantias,
por muito bem planeados os nossos planos. E é precisamente por não haver
garantias que a vida deve ser saboreada (e criada) momento a momento, dia a
dia. É importante estabelecer planos, metas e golos, mas temos de estar
preparados quando as coisas (por motivos externos) não nos correm como
queremos.
Quando
formamos expectativas, corremos o risco de sofrer com a desilusão. Podemos
traçar o amanhã, mas não podemos controlar o resultado. Quando esperamos o pior,
corremos o risco que a nuvem negra pairando sobre nós nos impeça de ver (e
tirar partido) das oportunidades; ao invés, expectativas demasiado altas podem criar
uma visão difícil de atingir. Em vez de esperarmos algo de concreto do futuro
(por exemplo, pensamentos positivos sobre algo que está fora do nosso alcance) devemos
é concentrarmo-nos no que precisamos de fazer para que os nossos golos sejam
realizados e metas alcançadas.
A
parte mais difícil da incerteza, pelo menos para mim, é a incapacidade de
planear e aquele sentimento de perder o controlo sobre o resultado de decisões
que afectam o meu futuro e o dos meus ente-queridos. Sentir-me de "mãos
atadas" deixa-me completamente fora de mim e aquele sentimento de “mero
observador” é uma luta constante que faço por aceitar, mas nem sempre consigo.
O
truque reside em acreditar na nossa capacidade de lidar com resultados
eventualmente longe de ideais. Em The Positive Power of Negative Thinking,
Julie K Norem explica que, para certas pessoas, o pessimismo é uma forma de
mecanismo de defesa; para estas pessoas (entre as quais eu me incluo) o medo da
dor da decepção é tal, que acreditar que o pior pode acontecer é preferível a uma
eventual “queda das nuvens” – que é o que frequentemente segue os pensamentos
positivos. Quando nos convencemos que o pior vai acontecer, preparamo-nos
melhor e não sofremos tanto; por outro lado, corremos o risco de sofrer duas
vezes: uma por antecipação, outra na realidade. Dito isto, não me considero uma
pessoa pessimista, antes pelo contrário, mas convencer-me que o pior vai
acontecer ajuda-me a lidar com a ansiedade das incertezas da vida.
Frequentemente
andamos tão obcecados (e receosos) com as coisas que não podemos controlar, que
não nos apercebemos das pequeninas coisas que podemos fazer para controlar o
destino; isto, obviamente, é um erro, na medida em que nos faz perder
oportunidades.
A
incerteza pode manter-nos acordados à noite, obcecando sobre as diferentes maneiras de nos proteger de tudo o que possa correr mal...ou pode-nos motivar a aceitar
a vida tal como ela é, a viver (e a apreciar) cada
momento tal como ele é, e abraçar a aventura de viver.
É
isso mesmo: a vida é uma constante aventura onde se conhecem pessoas maravilhosas
e aprendem lições valiosas. E é assim que deve ser vivida.
A certeza é uma ilusão;
A felicidade é efémera;
A dor efémera é.
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