Quando eu era pequena a semana da Páscoa era sempre muito
especial. Geralmente iamos a Lisboa (pais, avó e três irmãos) passar uns dias
com uns tios e primas que moravam em Belém. Viamos sempre um espectáculo
(geralmente o circo, ou uma matiné de desenhos animados dobrados em brasileiro)
iamos à Gulbenkian, ao parque infantil do Alvito em Monsanto, aos Jerónimos, à
fonte luminosa, ao antigo aquário…eu sei lá que mais…aqueles tios tinham cá uma
paciência com os sobrinhos provincianos… Depois, no domingo de Páscoa
propriamente dito, iamos à Missa de manhã (vestido, fita no cabelo a condizer e
sapatos de verniz sempre novos) e a seguir iamos para casa almoçar e ver o Lago
dos Cisnes de Tchaikovsky na televisão a preto e branco, que era a única coisa
que havia na altura.
Há muitos anos que abandonei o ritual de ir à Missa, mas as
saudades que eu tenho de celebrar este dia em família, com o folar feito pela
minha prima Graça, o cabrito assado feito pela nossa avó, de partir as amêndoas
doces com o abre nozes para comer a amêndoa sem aquele açucar rijo todo que
tinham por fora (o que todos os anos me valia uns valentes raspanetes da minha
mãe) e do bolo de bolacha, o meu favorito, que só era feito em ocasiões
especiais.
Hoje em dia a avó e os tios já partiram, as primas
encontram-se todas longe, os pais são da idade dos meus avós na altura e eu e
os meus irmãos já podiamos ser avós de alguém. Mas continuamos a fazer questão
de juntarmos-nos neste dia; os que restam e as gerações mais novas que,
concerteza, estão a criar as suas próprias memórias. As reuniões de família são
das recordações mais queridas que guardo neste meu coração cada vez mais
nostálgico; espero que os rebentos mais jovens da familia possam, um dia, dizer
o mesmo.
Portanto: os que já partiram deixaram saudades (e embora se
tenha acabado a Missa, as amêndoas doces, o folar e o cabrito assado) a cultura
de hoje é outra e a tradição agora pede
honeybaked ham,
scalloped potatoes e
string bean casserole. Enquanto que os
adultos e idosos envelhecem ou morrem, as crianças tornam-se adultos que, por
sua vez, dão lugar a outras crianças com outras experiências e outras
recordações. É esta a lei da vida, uma espécie de reciclagem.
Saudades!
Podia ser pior. Podia estar completamente só, ou
a viver numa zona de guerra, ou ao relento. Há que dar graças por aquilo que
temos, sem que isso implique ficarmos de braços cruzados para mudar as coisas
que podemos mudar ou resignados àquilo que não podemos. Pode ser sempre pior e
a pior coisa que nos pode acontecer é, penso, a resignação e rendermo-nos à
inercia/preguiça/desespero. Enquanto há vida há esperança e havendo saúde, boa
vontade e solidariedade (para com os outros e para connosco, o que também é muito importante) tudo se resolve. E
embora hoje não seja uma pessoa particularmente religiosa, esta mensagem de
esperança, rejuvenescimento e renascimento foi o que tirei desta época do ano.
Um óptimo domingo de Páscoa
a todos os meus leitores.
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