Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

5 de abril de 2015

Páscoa: ontem e hoje



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Quando eu era pequena a semana da Páscoa era sempre muito especial. Geralmente iamos a Lisboa (pais, avó e três irmãos) passar uns dias com uns tios e primas que moravam em Belém. Viamos sempre um espectáculo (geralmente o circo, ou uma matiné de desenhos animados dobrados em brasileiro) iamos à Gulbenkian, ao parque infantil do Alvito em Monsanto, aos Jerónimos, à fonte luminosa, ao antigo aquário…eu sei lá que mais…aqueles tios tinham cá uma paciência com os sobrinhos provincianos… Depois, no domingo de Páscoa propriamente dito, iamos à Missa de manhã (vestido, fita no cabelo a condizer e sapatos de verniz sempre novos) e a seguir iamos para casa almoçar e ver o Lago dos Cisnes de Tchaikovsky na televisão a preto e branco, que era a única coisa que havia na altura.

Há muitos anos que abandonei o ritual de ir à Missa, mas as saudades que eu tenho de celebrar este dia em família, com o folar feito pela minha prima Graça, o cabrito assado feito pela nossa avó, de partir as amêndoas doces com o abre nozes para comer a amêndoa sem aquele açucar rijo todo que tinham por fora (o que todos os anos me valia uns valentes raspanetes da minha mãe) e do bolo de bolacha, o meu favorito, que só era feito em ocasiões especiais.

Hoje em dia a avó e os tios já partiram, as primas encontram-se todas longe, os pais são da idade dos meus avós na altura e eu e os meus irmãos já podiamos ser avós de alguém. Mas continuamos a fazer questão de juntarmos-nos neste dia; os que restam e as gerações mais novas que, concerteza, estão a criar as suas próprias memórias. As reuniões de família são das recordações mais queridas que guardo neste meu coração cada vez mais nostálgico; espero que os rebentos mais jovens da familia possam, um dia, dizer o mesmo.

Portanto: os que já partiram deixaram saudades (e embora se tenha acabado a Missa, as amêndoas doces, o folar e o cabrito assado) a cultura de hoje é outra e a tradição agora pede honeybaked ham, scalloped potatoes e string bean casserole. Enquanto que os adultos e idosos envelhecem ou morrem, as crianças tornam-se adultos que, por sua vez, dão lugar a outras crianças com outras experiências e outras recordações. É esta a lei da vida, uma espécie de reciclagem.
Saudades!

Podia ser pior. Podia estar completamente só, ou a viver numa zona de guerra, ou ao relento. Há que dar graças por aquilo que temos, sem que isso implique ficarmos de braços cruzados para mudar as coisas que podemos mudar ou resignados àquilo que não podemos. Pode ser sempre pior e a pior coisa que nos pode acontecer é, penso, a resignação e rendermo-nos à inercia/preguiça/desespero. Enquanto há vida há esperança e havendo saúde, boa vontade e solidariedade (para com os outros e para connosco, o que também é muito importante) tudo se resolve. E embora hoje não seja uma pessoa particularmente religiosa, esta mensagem de esperança, rejuvenescimento e renascimento foi o que tirei desta época do ano.



Um óptimo domingo de Páscoa a todos os meus leitores.

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