Mrs. R tem 89 anos,
é viuva e ainda vive na casa onde em tempos idos viveu com o marido e os seus
cinco filhos. É minha vizinha há cerca de trinta anos e, quando a conheci,
aquela era uma casa muito movimentada: marido, mulher, quatro filhos solteiros
mais os respectivos namorados/as sempre a entrar e a sair, uma tia idosa, uma
filha casada com o respectivo marido e duas netinhas que quando não estavam no infantário
era ali que se encontravam. Hoje em dia é tudo muito diferente: a Mrs. R perdeu
o marido, os filhos estão todos casados (uns com filhos outros já com netos) e
Mrs. R sente-se muito sozinha e abandonada. Eu, pela parte que me cabe, faço o
que posso. Desde que lhe foi diagnosticado degeneração macular e que deixou de
conduzir, levo-a muitas vezes às consultas médicas, à farmácia, ao cabeleireiro
e uma vez por semana às compras. Também lhe preencho todos os documentos que
precisa e assisto-a com os investimentos e actividades bancárias. Está agora
com gripe e acabei de lhe levar uma canja.
Mas não foi só
fisicamente que Mrs. R mudou. Mrs. R nunca foi, digamos, uma pessoa doce ou
terna, polida ou dada a “punhinhos de renda.” Achei-a sempre um tanto áspera e,
por vezes, até mesmo brutinha. Mas como no fundo tinha bom coração nunca liguei
muito a isso. Quem é que não tem defeitos? O problema é que, entretanto, Mrs. R
tornou-se muito azeda, vingativa e rancorosa. Está sempre a implicar com todos
e com tudo, não assume responsabilidade por nada…e a minha paciência cada vez é
menos para a aturar. Não há semana em que não diga mal de alguém. Eu sei que
faz bem desabafar, mas não à custa do bem estar dos outros. Em vez de gratidão
por tudo quanto ainda tem (como, por exemplo, maior mobilidade do que eu que
sou muito mais nova e para o facto de até ser bastante saudável para a idade)
só fala do problema que tem com a vista e nos filhos/netos/bisnetos que diz não
lhe ligarem nenhuma. Não é bem assim. É verdade que a falta de visão levou-a a
perder um pouco da sua independência, mas tem quem a ajude nesse aspecto e
ainda consegue viver sozinha e governar-se sem auxílio de ninguém. Os filhos
juntaram-se e contrataram uma empresa para lhe tratar dos canteiros e cortar a
relva no verão, varrer as folhas no outono e limpar a neve e gelo no inverno.
Mas isso não chega. Todos têm as suas vidas, ainda nenhum é reformado e alguns
até já têm netos, mas telefonam-lhe sempre que podem; claro que não a visitam
com frequência, mas pelo que vejo também não a deixam à sua própria sorte.
Está-me sempre a dizer que não acredita que eles sejam assim tão ocupados, que
ela também tratou deles quando eles eram pequenos, que a razão porque teve
tantos filhos foi precisamente para que pelo menos um deles cuidasse dela
quando chegasse a velha e agora é assim que lhe pagam? Ingratos! “My children are all selfish, my sons-in-law
are useless…useless, I tell you! ...my grandchildren are a bunch of spoiled brats…” Isto depois de implicar
com o empregado bancário, com o caixa do supermercado, com o preço da gasolina
e dos alimentos, com a maneira como as pessoas conduzem ou estacionam os carros,
com o tempo (faça sol, vento, chuva, calor ou frio), com o médico, com o
carteiro que ainda não chegou, com o trânsito, com o tempo de espera, com a
senhora na cadeira de rodas que demorou mais tempo do que devia a sair do
caminho… APRE!!!... Sempre que estou com ela chego a casa com uma dor de
cabeça, de “bad mood” e com os nervos à flor da pele.
Hoje ouvi a sua
última “preciosidade”: disse-me que está a escrever num caderno todas as
afrontas de que diz ser vítima que é para, quando morrer, os filhos se sentirem
culpados e sofrerem com o que estão a fazer à mãe. A minha primeira reacção foi
ficar sem palavras, mas depois ainda lhe consegui perguntar se também anotava
as coisas boas. Disse-me que não, só as más. Também nunca tentou falar com os
filhos, diz que prefere castigá-los desta maneira.
Why, Mrs. R., why?
What’s the point? What does all that bitterness get you? I know you hurt, but
by holding onto grudges you are not punishing your children, you’re punishing
yourself. Going through life with a heavy heart, mad at the world and at
everyone who crosses your path, picking on everything and one everyone has to
be tiresome, right? You feel aggrieved,
but your need for vindictiveness is unhealthy – for you, not them – not to
mention fruitless. Rather than sitting down for a heartfelt “tête-à-tête” with
those you feel offend you, you choose to spew all that negative energy that
never reaches them but instead bounces right back to you. You’re the one who
suffers. They’re completely oblivious to what is really going on. Has all that
venom you carry in your heavy heart ever been able to change others? Does it in
any way contribute to make your life more enjoyable?
It’s not always easy letting go of grudges, especially those
that stem from childhood (such as bullying by a classmate or parental figure)
or those due to feelings of abandonment and betrayal – whether by a parent or a spouse. But resentment does not change
the past and harboring so much grief is harmful
and counterproductive. If there’s one thing I know for sure is that
nobody’s perfect.
Every single one of us makes mistakes and every single one
of us has, at one time or another, hurt someone else – sometimes even someone
who is near and dear to us. I’ve done it too, and God knows I have my own share
of guilt over that! Humans are complex beings who are inherently imperfect,
which is why I think it’s helpful to count the number of fingers we have
pointed at ourselves whenever our self-righteous selves decide to point a
finger at another. I try to remember
this “little tidbit” whenever I feel slighted by another person’s actions. If
we want to be forgiven, we must also be willing to forgive those who have done
us wrong. We cannot expect to be forgiven unless we learn to forgive – including
forgiving ourselves for all the hurt we’ve caused others when we didn’t know
any better.
I think this is all about “consciousness” (or lack thereof);
I think that if those who committed the wrong had the consciousness to do
better at the time, most would have. This applies to all of us and this is why
we should also be more forgiving with ourselves when it comes to guilty
feelings for past deeds /actions/ reactions when we didn’t know any better.
Going through life with a heavy heart is a terrible burden that changes
nothing. The late Maya Angelou once said the following: "You
should not be judged for the person you were in your twenties but for the
person you are trying to be now. You don't have to hold yourself hostage
to who you used to be or anything you ever did because, who has lived and
hasn't made mistakes? You did then what you knew how to do; when
you know better you do better."
Forgiving is not analogous to forgetting, nor does it mean
accepting the wrongs done to us; forgiveness is about putting the burden of
resentment down. Life will become much more enjoyable if we live it with
gratitude (not bitterness), if we become grateful for the abundance we already
have. When we don’t appreciate what we already have, when we become obsessed
with loss, guilt or turn into incessant record-keepers of all the “wrongs”
we’ve ever experienced (whether real or figments of our imagination) we feel
like victims and act from a martyr-like mindset. We then become unpleasant
major pains-in-the-butt whose only topic of conversation is bitch, bitch,
bitch. For all intents and purposes we become “sunshine blockers”. Eventually
people will avoid us and we will then complain even more about abandonment and
neglect (just like good-old Mrs. R) in yet another example of a self-fulfilling
prophecy.
Bottom line: If some can forgive crimes committed
against themselves or their loved ones; if mothers can go on living and
appreciate life after losing a child, there’s absolutely no reason why I should
not be able to forgive idiotic statements and injustices (real and perceived)
done to me. Forgive and forget? Non, pas moi – I’m not that evolved yet!
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