Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

7 de fevereiro de 2015

O perdão; os sentimentos de culpa; a Mrs. R e os seus rancores

Mrs. R tem 89 anos, é viuva e ainda vive na casa onde em tempos idos viveu com o marido e os seus cinco filhos. É minha vizinha há cerca de trinta anos e, quando a conheci, aquela era uma casa muito movimentada: marido, mulher, quatro filhos solteiros mais os respectivos namorados/as sempre a entrar e a sair, uma tia idosa, uma filha casada com o respectivo marido e duas netinhas que quando não estavam no infantário era ali que se encontravam. Hoje em dia é tudo muito diferente: a Mrs. R perdeu o marido, os filhos estão todos casados (uns com filhos outros já com netos) e Mrs. R sente-se muito sozinha e abandonada. Eu, pela parte que me cabe, faço o que posso. Desde que lhe foi diagnosticado degeneração macular e que deixou de conduzir, levo-a muitas vezes às consultas médicas, à farmácia, ao cabeleireiro e uma vez por semana às compras. Também lhe preencho todos os documentos que precisa e assisto-a com os investimentos e actividades bancárias. Está agora com gripe e acabei de lhe levar uma canja.

Mas não foi só fisicamente que Mrs. R mudou. Mrs. R nunca foi, digamos, uma pessoa doce ou terna, polida ou dada a “punhinhos de renda.” Achei-a sempre um tanto áspera e, por vezes, até mesmo brutinha. Mas como no fundo tinha bom coração nunca liguei muito a isso. Quem é que não tem defeitos? O problema é que, entretanto, Mrs. R tornou-se muito azeda, vingativa e rancorosa. Está sempre a implicar com todos e com tudo, não assume responsabilidade por nada…e a minha paciência cada vez é menos para a aturar. Não há semana em que não diga mal de alguém. Eu sei que faz bem desabafar, mas não à custa do bem estar dos outros. Em vez de gratidão por tudo quanto ainda tem (como, por exemplo, maior mobilidade do que eu que sou muito mais nova e para o facto de até ser bastante saudável para a idade) só fala do problema que tem com a vista e nos filhos/netos/bisnetos que diz não lhe ligarem nenhuma. Não é bem assim. É verdade que a falta de visão levou-a a perder um pouco da sua independência, mas tem quem a ajude nesse aspecto e ainda consegue viver sozinha e governar-se sem auxílio de ninguém. Os filhos juntaram-se e contrataram uma empresa para lhe tratar dos canteiros e cortar a relva no verão, varrer as folhas no outono e limpar a neve e gelo no inverno. Mas isso não chega. Todos têm as suas vidas, ainda nenhum é reformado e alguns até já têm netos, mas telefonam-lhe sempre que podem; claro que não a visitam com frequência, mas pelo que vejo também não a deixam à sua própria sorte. Está-me sempre a dizer que não acredita que eles sejam assim tão ocupados, que ela também tratou deles quando eles eram pequenos, que a razão porque teve tantos filhos foi precisamente para que pelo menos um deles cuidasse dela quando chegasse a velha e agora é assim que lhe pagam? Ingratos! “My children are all selfish, my sons-in-law are useless…useless, I tell you! ...my grandchildren are a bunch of  spoiled brats…” Isto depois de implicar com o empregado bancário, com o caixa do supermercado, com o preço da gasolina e dos alimentos, com a maneira como as pessoas conduzem ou estacionam os carros, com o tempo (faça sol, vento, chuva, calor ou frio), com o médico, com o carteiro que ainda não chegou, com o trânsito, com o tempo de espera, com a senhora na cadeira de rodas que demorou mais tempo do que devia a sair do caminho… APRE!!!... Sempre que estou com ela chego a casa com uma dor de cabeça, de “bad mood” e com os nervos à flor da pele.

Hoje ouvi a sua última “preciosidade”: disse-me que está a escrever num caderno todas as afrontas de que diz ser vítima que é para, quando morrer, os filhos se sentirem culpados e sofrerem com o que estão a fazer à mãe. A minha primeira reacção foi ficar sem palavras, mas depois ainda lhe consegui perguntar se também anotava as coisas boas. Disse-me que não, só as más. Também nunca tentou falar com os filhos, diz que prefere castigá-los desta maneira.

Why, Mrs. R., why? What’s the point? What does all that bitterness get you? I know you hurt, but by holding onto grudges you are not punishing your children, you’re punishing yourself. Going through life with a heavy heart, mad at the world and at everyone who crosses your path, picking on everything and one everyone has to be tiresome, right?  You feel aggrieved, but your need for vindictiveness is unhealthy – for you, not them – not to mention fruitless. Rather than sitting down for a heartfelt “tête-à-tête” with those you feel offend you, you choose to spew all that negative energy that never reaches them but instead bounces right back to you. You’re the one who suffers. They’re completely oblivious to what is really going on. Has all that venom you carry in your heavy heart ever been able to change others? Does it in any way contribute to make your life more enjoyable? 

It’s not always easy letting go of grudges, especially those that stem from childhood (such as bullying by a classmate or parental figure) or those due to feelings of abandonment and betrayal whether by a parent or a spouse. But resentment does not change the past and harboring so much grief is harmful  and counterproductive. If there’s one thing I know for sure is that nobody’s perfect. 

Every single one of us makes mistakes and every single one of us has, at one time or another, hurt someone else – sometimes even someone who is near and dear to us. I’ve done it too, and God knows I have my own share of guilt over that! Humans are complex beings who are inherently imperfect, which is why I think it’s helpful to count the number of fingers we have pointed at ourselves whenever our self-righteous selves decide to point a finger at another.  I try to remember this “little tidbit” whenever I feel slighted by another person’s actions. If we want to be forgiven, we must also be willing to forgive those who have done us wrong. We cannot expect to be forgiven unless we learn to forgive – including forgiving ourselves for all the hurt we’ve caused others when we didn’t know any better.

I think this is all about “consciousness” (or lack thereof); I think that if those who committed the wrong had the consciousness to do better at the time, most would have. This applies to all of us and this is why we should also be more forgiving with ourselves when it comes to guilty feelings for past deeds /actions/ reactions when we didn’t know any better. Going through life with a heavy heart is a terrible burden that changes nothing. The late Maya Angelou once said the following: "You should not be judged for the person you were in your twenties but for the person you are trying to be now. You don't have to hold yourself hostage to who you used to be or anything you ever did because, who has lived and hasn't made mistakes? You did then what you knew how to do; when you know better you do better."

Forgiving is not analogous to forgetting, nor does it mean accepting the wrongs done to us; forgiveness is about putting the burden of resentment down. Life will become much more enjoyable if we live it with gratitude (not bitterness), if we become grateful for the abundance we already have. When we don’t appreciate what we already have, when we become obsessed with loss, guilt or turn into incessant record-keepers of all the “wrongs” we’ve ever experienced (whether real or figments of our imagination) we feel like victims and act from a martyr-like mindset. We then become unpleasant major pains-in-the-butt whose only topic of conversation is bitch, bitch, bitch. For all intents and purposes we become “sunshine blockers”. Eventually people will avoid us and we will then complain even more about abandonment and neglect (just like good-old Mrs. R) in yet another example of a self-fulfilling prophecy.
 http://www.funniestmemes.com/wp-content/uploads/Funniest_Memes_holding-onto-a-grudge_18246.jpeg
Bottom line: If some can forgive crimes committed against themselves or their loved ones; if mothers can go on living and appreciate life after losing a child, there’s absolutely no reason why I should not be able to forgive idiotic statements and injustices (real and perceived) done to me. Forgive and forget? Non, pas moi – I’m not that evolved yet!

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