Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

12 de março de 2017

A vida, a morte, a Fé e a Lei de Lavoisier


O que mais custa quando perdemos um ente querido é a realização de que nunca mais o voltaremos a ver. Foi isto que senti quando duas pessoas que eram muito importantes para mim faleceram. “Never again” é, de facto, uma eternidade e um conceito que tenho uma certa dificuldade em engolir. Mas com o passar do tempo isto muda e hoje continuo a sentir essas duas pessoas muito perto, sobretudo nos momentos mais difíceis.

A única certeza que tenho é a de que nada sei; dito isto, sinto que o Ser humano não se limita a “x” de carcaça (corpo) com “y” de personalidade. Acredito que cada um de nós é composto por um bloco de energia, particulas que se movem tão depressa, tão depressa, que parecem imóveis. Aquilo a que chamamos “corpo” nada mais é do que uma máquina que, como todas as máquinas, se comportam melhor quando são novas mas que, com o passar dos anos, cansam-se e acabam por lhes dar o béri-béri. Este corpo que habitamos temporariamente não passa de uma “miscelânea” do ADN dos nossos antepassados e que mais tarde será “reciclado.”

Conheço quem diga que a vida é uma linha mais ou menos recta; eu acredito mais no conceito circular da vida (“the circle of life”) e menos de que a vida é linear, com princípio, meio e fim.

Não penso assim para que me sinta melhor, ou porque gosto mais do que a alternativa; é isto o que eu sinto desde os meus tempos de criança e, ao contrário do que se possa pensar, este tipo de pensamento não se deve a nenhuma lavagem cerebral por parte de nenhum adulto, nem tão pouco ao condicionamento social, antes pelo contrário.

Como tanta criança do Portugal dos anos 60, eu também frequentei colégios de freiras onde padeci com aulas de Religião e Moral, naquele tempo obrigatórias. Como se isso não bastasse, durante cinco anos fui obrigada a todos os domingos assistir à Missa, véu branco a tapar o cabelo e sempre em jejum (que era para não receber o corpo de Cristo sem sacrifício e evitar cometer um pecado mortal que me levasse direitinha ao inferno). Seguiam-se as aulas de Catequese onde a doutrina que me tentaram impingir ia sempre contra aquilo que, na minha perspectiva, fazia mais sentido.

Hoje em dia continuo a sentir-me muito despegada deste corpo e a vê-lo não como o que eu sou, mas como um meio de transporte (“a vessel”) para o que sou; quando este “vessel” der o berro (e já faltou mais) eu continuarei a existir noutra forma, noutra dimensão.

Talvez por isso não encare a morte como um “vazio” seguido de um “nada.” Já Antoine Lavoisier, biólogo e químico francês do séc. XVIII e hoje considerado “o pai da química moderna”, dizia: “Rien ne se créé, rien ne se perd.” Nada se cria, nada se perde. Nada morre, tudo se transforma.

E é esta a minha Fé. 
Nada convencional, admito, mas é minha.

“Viver nos corações que deixamos para trás, não é morrer.” – Thomas Campbell


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