Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

21 de fevereiro de 2016

A rebelião da classe social ansiosa



Primeiro os factos:
1-) De acordo com o Pew Research Center, a classe média americana está a diminuir e a probabilidade de caírem na pobreza é assustadoramente alta, sobretudo para a maioria sem formação universitária.
2-) Dois terços da população trabalhadora americana vive de salário a salário, podendo a maioria perder os seus empregos a qualquer momento. Em Portugal, onde isto é mal visto, chamam-lhe "trabalho precário"; nos E.U.A. chama-se "employment at will" (por as pessoas se poderem despedir ou ser despedidas sem justa causa e a qualquer momento) e é bem visto.
3-) Muitos pertencem a um número cada vez maior de trabalhadores "on-demand", trabalhando consoante as necessidades do empregador, sem benesses, ordenado fixo, ou horas fixas; por outras palavras, sem contractos nem garantias. 
4-) Um número obsceno tem dois ou três trabalhos para conseguir pagar a renda ou a hipoteca da casa, o(s) carro(s), a mercearia, as propinas dos filhos universitários.
5-) A maioria das pessoas que perdem os seus empregos nem sequer se qualificam para o fundo de desemprego.
6-) A hipótese de um americano ser morto por um jihadista em solo americano é muito menor do que desse mesmo americano se suicidar com uma arma de fogo, porém, por não ser suficientemente sensacionalista, não é esta a mensagem que a comunicação social normalmente passa ao público.
7-) Esta classe ansiosa protege-se a sim própria comprando armas de fogo a índices nunca vistos.

Agora o meu parecer:
Os americanos da classe média andam stressados, e este stress já está a ter repercussões. Muitos são os que tomam antidepressivos, ansiolíticos  e comprimidos para dormir mas, pior ainda, que se suicidam e envenenam  com drogas e álcool. O resultado trágico de tudo isto é o facto de, pela primeira vez na história, a esperança de vida da população branca da classe média estar a diminuir

Conheço muitos americanos da classe média endividados até à raiz dos cabelos, todos com “smart phones” para a família inteira, bons carros e o último modelo de televisão com um ecrã quanto maior melhor – é tudo uma questão de mentalidades e prioridades; a meu ver, tanto bem material não passa de uma mera cortina de fumo ou, como se dizia em Portugal no meu tempo, isto é tudo para inglês ver.

A classe média americana é hoje uma classe ansiosa - e está em revoltada. Andam assustados e com os nervos à flor da pele, revoltam-se uns contra os outros e, sobretudo, contra tudo o que é diferente e fora das suas zonas de conforto. Tanta ansiedade, desconfiança e medo torna-os vulneráveis… e alvos muito fáceis de certas figuras inescrupulosas e poderosas (sejam patrões ou políticos), que se aproveitam de tanta instabilidade emocional para reforçar ainda mais o controle sobre os seus súbditos – e no meio disto tudo, é este o efeito secundário que mais temo.

Ensinou-nas a História que já muitas ditaduras começaram com estes precisos ingredientes.
 

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