Primeiro os factos:
1-) De acordo com
o Pew Research Center, a classe média americana está a diminuir e a probabilidade de
caírem na pobreza é assustadoramente alta, sobretudo para a maioria sem
formação universitária.
2-) Dois terços da
população trabalhadora americana vive de salário a salário, podendo a maioria
perder os seus empregos a qualquer momento. Em Portugal, onde isto é mal visto,
chamam-lhe "trabalho precário"; nos E.U.A. chama-se "employment
at will" (por as pessoas se poderem despedir ou ser despedidas sem justa
causa e a qualquer momento) e é bem visto.
3-) Muitos
pertencem a um número cada vez maior de trabalhadores "on-demand",
trabalhando consoante as necessidades do empregador, sem benesses, ordenado fixo,
ou horas fixas; por outras palavras, sem contractos nem garantias.
4-) Um número
obsceno tem dois ou três trabalhos para conseguir pagar a renda ou a hipoteca
da casa, o(s) carro(s), a mercearia, as propinas dos filhos universitários.
5-) A maioria das
pessoas que perdem os seus empregos nem sequer se qualificam para o fundo de
desemprego.
6-) A hipótese de
um americano ser morto por um jihadista em solo americano é muito menor do que
desse mesmo americano se suicidar com uma arma de fogo, porém, por não ser
suficientemente sensacionalista, não é esta a mensagem que a comunicação
social normalmente passa ao público.
7-) Esta classe
ansiosa protege-se a sim própria comprando armas de fogo a índices nunca vistos.
Agora o meu parecer:
Os americanos da classe média andam stressados, e este
stress já está a ter repercussões. Muitos são os que tomam antidepressivos, ansiolíticos
e comprimidos para dormir mas, pior
ainda, que se suicidam e envenenam com drogas e álcool. O
resultado trágico de tudo isto é o facto de, pela primeira vez na
história, a esperança de vida da população branca da classe média estar a
diminuir.
Conheço muitos americanos da classe média endividados até à
raiz dos cabelos, todos com “smart phones” para a família inteira, bons carros
e o último modelo de televisão com um ecrã quanto maior melhor – é tudo uma
questão de mentalidades e prioridades; a meu ver, tanto bem material não passa de uma mera cortina
de fumo ou, como se dizia em Portugal no meu tempo, isto é tudo para
inglês ver.
A classe média americana é hoje uma classe ansiosa - e está
em revoltada. Andam assustados e com os nervos à flor da pele, revoltam-se uns
contra os outros e, sobretudo, contra tudo o que é diferente e fora das suas
zonas de conforto. Tanta ansiedade, desconfiança e medo torna-os vulneráveis… e
alvos muito fáceis de certas figuras inescrupulosas e poderosas (sejam patrões
ou políticos), que se aproveitam de tanta instabilidade emocional para reforçar
ainda mais o controle sobre os seus súbditos – e no meio disto tudo, é este o
efeito secundário que mais temo.
Ensinou-nas a História que já muitas ditaduras começaram com
estes precisos ingredientes.
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