É este o título de um livro que acabei agora de ler, da
autoria de Pedro Vasconcelos e editado pela Oficina do Livro. Conta-se pelos
dedos de uma mão os livros que, nos últimos 38 anos, tenho lido em português; é
que, infelizmente, se não forem oferecidos por algum “forasteiro” que nos vem
visitar não tenho onde os comprar. Foi o caso deste livro, oferta de uma prima
que veio até cá passar uma temporada connosco.
Para além das pessoas, tenho muitas saudades de certas coisas
portuguesas e ler na minha língua materna (a minha primeira paixão), é apenas
uma delas.
Trata-se de um romance semi-histórico que relata uma bonita
história de amor proibido e aqueles vínculos indestrutíveis de amizade que tanto
aquecem o coração a tantos de nós. Mas como não há Yin sem Yang, Pedro de
Vasconcelos enche 259 páginas a descrever as aventuras e desventuras dos conquistadores portugueses da época os
quais, pelas mais diversas razões, abandonam o Reino e vão para as terras dos
outros destruir civilizações e costumes, usurpar os seus tesouros e substituir
religiões e crenças locais pelo catolicismo; até os calvinistas dos holandeses
(para além de competirem com os portugueses pelos mesmos tesouros e
territórios) eram mal vistos por serem protestantes. Tudo isto descrito com
inúmeros relatos de ódio, sacanagem, drama, intolerância, injustica social a
dar e a sobrar, egos do tamanho do Universo e iguais doses de amor, beleza e solidariedade.
O ser humano em toda a sua complexidade e esplendor, simultaneamente o canalha
que desencadeia guerras (estúpidas, sempre estúpidas!) que é apologista da
escravatura e defensor do Santo Oficío e da Inquisição, também tem capacidade
para amar e ser solidário.
Tudo isto passado no meio belo e exótico compreendido entre
Timor e Goa, como o título indica, em plena época filipina. O início do livro
fez-me lembrar as lendas da padeira de Aljubarrota e as lutas entre David and
Golias, o fraco fazendo negra a vida do forte, os franzinas dos portugueses com
os seus recursos escaços a defenderem um forte em Timor dos holandeses
todo-poderosos com mezinhas, magia negra e caldeirões de água a ferver. Na
mesma veia, também me lembrei de uma história contada pela minha avó decorrida
durante a primeira guerra mundial quando o meu avô estava destacado no forte do
Caniço, em que barquitos de pesca madeirense decidiram fazer frente a um
submarino alemão. Valentia e tenacidade,
duas qualidades que admiro muito!
Gostei porque me ajudou a refrescar a memória (tanto da
ortografia e vocabulário português como, também, daquele periodo da História de
Portugal). Gostei pelo factor histórico e pelas descrições e simbolismo, mas
tive uma certa dificuldade em aceitar tanta magia e alquimia. Não obstante deixou-me
com vontade de ler 1617 e 1621, dois livros que dão prosseguimento aos feitos
extradordinários e aos infortunios das personagens; por outras palavras, a saga
continua e eu quero saber o que acontece àquela gente.
Trilogia:
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