Nota Breve

Podia ter chamado este blog "Reflexões de uma luso-americana"; escolhi "Mensagem numa garrafa" por desconhecer o destino das minhas palavras e o impacto que estas terão. Será escrito nas versões de português de Portugal (pelos menos da maneira que me recordo) e de inglês americano.

This blog could have been named "Musings of a Portuguese-American"; I chose "Message in a Bottle" as I will never know who my words will reach and the impact they'll have on all those strangers. It is being written in American English, as well as in Portuguese from Portugal.

14 de janeiro de 2017

Crianças difíceis

As birras, as desobediências e as malcriações das crianças que tanto incomodam os adultos, frequentemente escondem um verdadeiro caos emocional de dor, confusão e sofrimento. O modo geral que a maioria dos adultos encontra para lidar com situações destas vai desde um simples raspanete à própria violência física. Fácil? Sim. Eficaz? Nem por isso.

A longo prazo, recorrer às palavras em tons mais fortes ou a castigos (desde sanções ao próprio castigo corporal) somente consegue intensificar ainda mais as emoções negativas como a frustação, as inseguranças e a baixa auto-estima; e pior: faz com que a criança aprenda que a violência é remédio santo para os comportamentos difíceis.

Isto não significa dar um abraço ou rir quando a criança faz (ou diz) algo que não deve. Isto significa não recorrer ao castigo corporal ou a berros porque, então, o resultado será uma reacção ainda mais negativa na criança.

Devemos perguntar à criança porque é que ela reagiu daquela maneira e, com calma, devemos explicar-lhe porque razão o seu comportamento não é aceitável; de seguida, devemos indicar a maneira mais correcta de reagir a uma situação como esta para que, da próxima vez que a criança sinta os mesmos sentimentos ou frustração, saiba lidar melhor com o que lhe está a acontecer.

Muitas vezes a criança quer é aprender mas, por não saber como, faz ou diz algo que não deve. Quando isto acontece, humilhar a criança com sermões ou tabefes só serve para que a criança se meta em copas com medo de não saber o que dizer, ou fazer, perante situações novas; o subproduto mais plausível, então, é um adolescente tímido e, mais tarde, um adulto receoso de todas as novas oportunidades e com habilidades interpessoais que deixam muito a desejar.

A criança deve entender desde a mais tenra idade que tudo o que diz ou faz traz consequências. Porque nem todas estas consequências são positivas, é imprescindível estabelecer limites e incutir responsabilidade; igualmente importante é oferecer apoio e confiança. Ensinar que errar é humano, que erros fazem parte da vida e que, por isso, é normal nem sempre agirmos correctamente ou termos as respostas mais adequadas para dar às surpresas da vida. A criança deve saber que não é por fazer asneiras que gostaremos menos dela e que estaremos sempre disponíveis para guiá-la no que por preciso.

Criar hábitos e rotinas ensina responsabilidade e muitas destas “crianças difíceis” precisam mas é de ambientes estruturados onde o reforço positivo esteja presente. Criança que cresce sabendo que consegue (ou por si só ou com ajuda de um adulto) torna-se num adulto responsável e crente nas suas próprias capacidades. Deve ser este o golo do encarregado de educação.

Não sou nem psicóloga nem psiquiatra, nem tão pouco escrevo estas palavras com pretensão de saber a abordagem mais adequada para estas situações melindrosas. Os próprios profissionais treinados neste preciso assunto nem sempre têm todas as respostas certas. O que eu acho é que (antes de recorrer à humilação ou ao castigo corporal; antes de rotular a criança de "difícil" ou como uma verdadeira causa perdida; antes de as enchermos de drogas legais cujo efeito secundário é roubar o espírito e a infância destas “crianças difíceis”) deviamos tentar perceber o porquê destes comportamentos desmedidos. Penso que assim se evitariam tensões, ansiedade e muitas lágrimas.

Outra coisa que eu acho (e isto, infelizmente é um erro que muitos pais fazem) é comparar os filhos. Lá porque o Joãozinho foi sempre um bom menino que nunca deu trabalho ao papá e à mamã, não quer dizer que o mano seja igual; até porque o mano pode ter outras qualidades que o Joãozinho nunca teve nem nunca terá. Há crianças que precisam de mais auxílio, palavras de apoio e segurança do que outras. Neste aspecto, infelizmente, sei do que falo.

Temos que nos lembrar que o vocabulário e o cérebro destes “humanos de meia-tigela” ainda não estão tão desenvolvidos como os nossos e, por isso, cabe-nos a nós, aos adultos, tentar perceber o que tanto lhes atormenta a alma. Isto são problemas complexos cujas respostas nem sempre são fáceis.

Como adultos que somos, a responsabilidade de saber dar uma resposta a esta criança exigente é nossa mas, ao contrário de chapadas na cara ou puxões de orelhas que são contraproducentes, isto requer paciência, muito esforço e muito carinho. E, se não soubermos lidar com a situação, a responsabilidade de encontrar um profissional que ajude o nosso educando é igualmente nossa.

Escrito de um ponto de vista de uma mulher de meia-idade que já foi criança e que, infelizmente, passou por muitas destas situações.

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